Agenor esperava assentado na cadeira de ferro cruzando e descruzando as pernas de acordo com a dor que revezava entre elas. A porta se abriu e o homem de bigode o chamou num tom amistoso, prologando a última sílaba:
     - Agenoooooor, entre, meu caro! Fique à vontade, senta aí! - disse o homem apontando-lhe outra cadeira de ferro, enquanto se acomodava na imensa poltrona.
     - Obrigado - respondeu Agenor já lamentando pelas dores nas pernas que não teriam descanso.
     - Muito bem, amigo, você já deve saber por que está aqui, certo?
     - Desculpe, mas não sei não.
     - Oraaaa, que é isso Agenor! Você um homem tão inteligente.
     - Realmente, não sei.
     - Então lhe explico, Agenor: você está aqui por causa desta caneta – disse o homem de bigode erguendo, com a mão direita, a caneta esferográfica.
     - Não entendi.
     - Calma, amigo, vou lhe explicar: você sabe o peso dessa caneta?
     - Unsss – agora quem prolongou o fonema foi Agenor – 10 gramas?
     - Errou feio, Agenor, errou feio. Não é possível medir o peso dessa caneta com números.
     - Como assim?
     - Que é issoooo! Faça um esforço, homem!
     - Esforço para quê? Para levantar a caneta? – Agenor não resistiu à ironia que pulou da língua, empurrada pela já raiva que sentia da cadeira de ferro.
     - Agora ela ficou mais pesada, Agenor, bem mais pesada...
Agenor descruzou as pernas e as cruzou novamente.
     - O senhor poderia ser mais objetivo, por gentileza.
     - Existem casos que a objetividade não alcança, Agenor. Pense, Agenor, Pennnnnse! Qual o peso desta caneta? – agora o homem de bigode balançava o objeto que parecia bater asas na sua frente.
     - Sinceramente, não sei aonde o senhor quer chegar. Seja como for, gostaria de aproveitar a oportunidade para saber se já tem uma avaliação daquele questionamento que lhe enviei.
     - A resposta é o peso da caneta, Agenor.
     - Parece que você está usando uma metáfora...
     - Issssso, Agenor! Você está quase lá.
     - Ok, acho que essa caneta tem o peso da sua intenção.
     - Como? – o homem de bigode, agora, franziu as sobrancelhas – Perái, Agenor, quem está sendo obscuro aqui é você. Pois bem, se não quer entender vou desenhar pra você: esta caneta, aqui, Agenor, pode ter um peso de uma pedra que lhe atinge a testa ou um meteoro que cai sobre toda a nação. Entendeu?
     - Acho que o senhor está fazendo algum tipo de ameaça...
     - Ameaaaaça? Eu? Você me ouviu fazer claramente uma ameaça?
     - Não, mas ficou subentendido.
     - Subentendido? Subentendido? Agenor, sub é coisa inferior. Você pode coisa melhor.
     - Creio que o melhor seja eu sair então.
     - Tudo bem, tudo bem, mas vai sair com a possibilidade do peso da caneta.
     - Não tem como eu sair com um peso de algo que não pode ser medido e que nem sei o que é...
     - Não sabe ou não quer saber?
     - Não sei.
     - Ah, Agenor, você sabe sim. Só não quer admitir.
     - Como sabe que eu sei?
     - Quem consegue segurar esta caneta pode tudo, inclusive determinar que o outro sabe mesmo não sabendo. É isso aí: Agenor, você sabe e pronto! Tenha as suas precauções – afirmou o homem de bigode parando com a tampa da caneta apontada para Agenor.
     Agenor não sabia o peso da caneta, mas sabia muito bem o peso das suas pernas que latejavam e pareciam pesar toneladas. A maldita cadeira de ferro não possuía ergonomia alguma que pudesse colaborar com o nervo ciático. Agenor já sentia câimbras. Ele se ergueu com muita dificuldade, apoiando as mãos sobre os braços de ferro e depois as amparou na base da coluna, fazendo um suave ângulo para frente. Ao endireitar o corpo, tomou a caneta do homem de bigode, foi até a janela e a arremessou do 18º andar.
     - Realmente essa caneta tem peso. A lei da gravidade me disse isso – e virando em direção à porta, completou – A propósito, acho que deveria trocar essas cadeiras de ferro. Pesam uns 15 quilos e não são nada confortáveis.
 
Well Coelho
Enviado por Well Coelho em 23/09/2015
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