O Pequeno Que Se Tornou Herói

O Pequeno Que Se Tornou Herói

Diz um provérbio umbundu que na vida não há ser inferior.

Assim, Numa certa aldeia havia apenas um caminho que os animais utilizavam quando se dirigiam ao rio para acarretar a água. Uma víbora cuspideira e muito venenosa se instalara nesse caminho e os animais que tentavam passar nele eram vítimas da cobra e por fim devorados. A situação gerou pânico no seio dos animais porque a água escasseava. O rei dos animais naquela aldeia reuniu todos os residentes para discutir o problema que se agravava a cada momento. Um dos membros da comunidade sugeriu:

- Vamos ferver a água, colocá-la numa panela e transportá-la à cabeça para que seja morta a cuspideira uma vez que a mesma só atacava os animais pelas cabeças.

A ideia foi acolhida com muita satisfação mas na hora de pô-la em prática começaram a surgir constrangimentos, pois, os animais indicados para levarem à cabeça, a panela d’água quente, quando chegavam no local não tinham coragem de concentrar a cobra porque era muito grande e comprida e por isso, quando chegavam ao local tremiam de medo, deixavam cair a panela e eram imediatamente atacados e devorados pela víbora.

A procura de água começou a intensificar-se e a preocupação cresceu entre os animais. Chegou a vez do macaco, indicado para levar a panela de água quente mas este, inteligentemente perguntou:

- De quem foi a ideia de matar a víbora com água quente?

Os outros responderam: - foi a ideia do Cágado.

- Então deve ser o cágado o elemento ideal para pôr em prática essa empreitada pois, ele, é dono daquilo que pensou mas acontece que todos o ignoram por ser lento e pequeno. Então, os animais pediram ao cágado que levasse a panela d’água quente sobre a sua crosta e o cágado concordou em cumprir tal missão. Quando chegou próximo do local onde se encontrava a cobra, o cágado ergueu a sua cabeça e em seguida escondeu-na por dentro da sua concha, continuando a caminhar. Ao ver a panela preta por cima da crosta do cágado, a cobra saltou imediatamente para dentro da panela e o cágado apenas sentiu o peso da inimiga e a contorcer-se nos seus últimos momentos. Era o fim da vagabundagem da víbora e, o cágado passou de pequeniz para herói venerado por ter salvo a comunidade inteira da malvadez da cobra, da sede e da fome.

Salueira Costa, 23/6/07

Conto de transmissão oral da comunidade ovimbundu do Huambo