ANJOS ALHEIOS
Anjos alheios
Notei quando as pernas trançaram tombando Ivana no asfalto.
Um susto me acudiu naquele instante e corri para ela. Havia um sentimento de pavor que me apunhalou fundo. Meus braços esticados desejavam chegar antes de mim. Agarrei-a incrédulo! Sacudi Ivana devagar enquanto chamava-a pelo nome, bem perto de seu ouvido. Haveria de escutar-me! A cabeça pendia pra lá e pra cá. Implorei: Não Ivana, não faça isso minha querida! Sacudi mais forte, maltratei-a. Gritei “Ivanaaa!”. Acho que gritei.
Lancei aflitos olhares ao redor procurando ajuda, mas não havia ninguém, nem perto nem distante. Nem um telefone havia que pudesse levar meu desesperado grito para longe dali.
O delicado corpo magro e frágil estatelado em lugar estranho. Parecia morta a pobre e amada mulher com quem vivi por tantas vidas. Gritei outra vez, seguidamente: ”Ái meu Deus! Ái, meu Deus!”.
Éramos apenas nós. Ou, apenas eu. Urrei! Urrei diversas vezes.
Os céus pareciam surdos para minha dor. Minha alma afobada chorava descontrolada.
Senti-me verdadeiramente desamparado de pessoas, e de anjos.
Anjos? Vi anjos alheios vagando... Acho que vi. Não eram anjos de Ivana. Nem meus.