865-A POMBA DE ESTIMAÇÃO DO IMPERADOR- Uma viagem no tempo

Uma viagem no tempo

Viajando em nossa máquina do tempo “Imaginária’ marcamos nossa chegada para o ano 410 no local mais famoso daquele tempo: Roma.

Ainda era famosa, procurada por viajantes do Império Romano e visada pelos exércitos dos povos bárbaros, que era como os romanos chamavam a todos que não se submetiam ao poder simbolizado pelas letras SPQR. Os estandartes de Roma que já havia coberto a maior parte do mundo conhecido, desde, haviam se recolhido.

Desde o ano 395, com a morte do imperador Teodósio, o império romano se dividiu em dois para sempre. Honorius assumiu a cadeira de imperador da parte ocidental e Arcádio, estabelecendo-se em Constantinopla, tornou-se imperador da parte leste.

Chegamos, pois, eu e meus dois amigos e companheiros de aventuras através dos tempos, quando já era imperador em Roma, que estava em franca decadência, o debilóide Honorius. Nossa máquina invisível nos colocou bem defronte ao Coliseu, numa praça ampla, que, no momento, era palco de mais uma batalha entre bárbaros germânicos e as tropas romanas.

Como também permanecemos invisíveis e não perceptíveis materialmente às tropas em combate, assistimos de perto a um importante assalto ao Coliseu, cuja destruição já havia sido iniciada por outros invasores em anos anteriores.

Era vinte e três de agosto de 410. No dia seguinte, os germânicos tomaram Roma, e nos próximo quatro dias saquearam por completo a grande cidade.

O imperador da ocasião, Honorius, estava na cidade de Ravena, alguns quilômetros ao norte de Roma, local de laser e descanso da nobreza de então. Era um pancrácio total e só estava no cargo porque os homens capazes já haviam debandado.

Uma prova de sua idiotice já tinha sido dada por ele dois anos antes, quando mandou executar seu melhor general, Stilicho.

A história registra que em 401 um exército de godos e germânicos, chefiados por Alarico, o Ruivo, ameaçaram Roma com sua horda quase que invencível de guerreiros brutais e cruéis. Alarico foi detido em seu avanço pelo general Stilicho, o mais competente que ainda permanecia fiel a Honorius, evitando o colapso da cidade-símbolo do império.

Mesmo contido naquela ocasião, Alarico não recuou e continuou sendo uma ameaça. Stilicho, que era hábil estrategista, atraiu Alarico para uma falsa aliança, na intenção de destruir o exército do invasor bárbaro.

O Imperador Honorius entretanto, idiota e mal-informado, pensou que Stilicho o estava traindo. Não titubeou: mandou executar seu melhor general!

Isto se deu em 408. A seguir, Alarico voltou com força total a atacar Roma. Em 410, quando aportamos à cidade, vindos do futuro, Honorius estava em Ravena, enquanto a cidade era saqueada.

E o que fazia o imperador?

Ele adorava pombos. Tanto gostava que tinha batizado sua pombinha preferida de “Roma”. Estava justamente no pombal, cuidado de sua predileta, quando foi chamado às pressas para receber notícias de Roma. Esbaforidos e machucados, os mensageiros lhe informaram:

— Imperador, Roma foi tomada e está sendo destruída pelos bárbaros!

Erguendo as mãos e levando-as à cabeça, desesperado, gritou:

— Mentira! Impossível! Ela acabou de comer tudo da minha própria mão!

Só se acalmou quando percebeu que os mensageiros falavam da cidade e não de seu pombo predileto.

A tomada de Roma por Alarico, que presenciamos como testemunhas imperceptíveis daqueles eventos, foi o começo do fim do Império Romano Ocidental, que se deu efetivamente no ano 476.

E é prá lá que nós vamos.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 29 de outubro de 2014.

Conto # 865 da Série 1OOO Histórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 31/08/2015
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