Eu e o diabo

Mudança e transgressão. Essas eram as palavras que ecoavam em

minha cabeça antes de me mudar para longe. Queria ir de encontro ao novo, mas mesmo que a mudança fosse externa, o que eu realmente me atraía seria a transformação do meu âmago quando todos os ciclos estivessem quebrados. Apenas essa percepção era o suficiente para o emu deleite na terra nova, até conhecê-lo... O Diabo. Livre de todas as expectativas de obviedade, ele se disfarçava de mortal, porém, é dispensável o acúmulo de tempo para desvendar a sua identidade. O simples fato de encontrar esse sujeito é quase como um pacto: Você não vai embora enquanto ainda aguentar beber.

-Vou te levar comigo para madrugada de quinta pra domingo! - Diz ele demoniacamente com sua proposta, que tanto afaga com loucura viva, como te condena a ela. Talvez a completa falta de necessidade de negar as propostas é que nos sentenciavam a ficar no meio do tornado, e assim, o ciclo vira circo e quem entra não sai mais.

As cerimônias se faziam em sua casa, abrigo para todas as espécies de loucos, desde o seu advogado que estava sempre subindo e descendo a procura de aventura, à argentinos, mulheres, estranhos, conhecidos e as vezes até o próprio Stephen Hawking e um sósia do latino. E se, por acaso, no meio do caos dessa existência você a questiona com niilismo, a resposta já está pronta: "A tragédia é a simples derivação de todas as coisas. Por que chorar, se um dia tudo acaba. Por que dormir se um dia você vai dormir pra sempre?" Escutava-se entre vozes ébrias em uma sala cheia de pessoas que coexistiam nessa madrugada de quatro dias.

-CATAPLEK!!! - Faziam os raios e as garrafas de cerveja que eram abertas, servidas, esvaziadas e empilhadas com frenesi! Os cigarros, assim como as horas, iam virando cinzas, o mundo girava uma, duas, três vezes e o diabo continuava com o mesmo olhar que portava no início de tudo, o olhar de quem se nutri desse ouroboros junto de seus fiéis escudeiros e mergulhadores que imergem nesse oceano de boemia. Sim, eu conheci o diabo, e aprendi muito com ele. Agora estou de volta e posso dizer que a moral da história é diferente do menino solitário que corria gritando pela cidade que a união faz a forca. Nós, humanos, estamos sempre gestando uma certa predileção ao amor de nossa auto-destruição. Os demônios não são os obstáculos que a vida nos deu, mas nossas próprias limitações,fraquezas e franquezas. Só você mesmo para se apoiar! ...sem palavras.

Felipe Alves Freitas
Enviado por Felipe Alves Freitas em 26/08/2015
Reeditado em 14/04/2016
Código do texto: T5359399
Classificação de conteúdo: seguro