Duas formigas (a sonhadora e a aprisionada)
FORÇADAMENTE IBIZA. SEM QUERER, ALCATRAZ
"Que raiva, menina!", escreveu Haroldo na caixa de diálogo do aplicativo de mensagem instantânea. Paula perguntou o motivo da braveza. Ele explicou que foi adoçar o café e havia várias formigas dentro do açucareiro. "Da próxima vez, tampa", foi o conselho escrito pela amiga. O jovem explicou que não estava destampado: trata-se daqueles potinhos de plástico com abertura em um dos lados para a colherinha, que serviu também de passagem às intrusas. "Elas estão igual loucas na mesa. Sabe o que fiz? Pus o açucareiro num prato com água". Paula gargalhou, disse que não era uma má ideia, mas que Haroldo poderia simplesmente ter guardado na geladeira. Ele justificou: "não gosto de açúcar gelado".
Depois de tratarem sobre o trabalho de Biologia para o colégio, foi buscar mais uma xícara. "Sabe como é, sou cafetão", disparou o comentário de sempre. E a amiga, que adora a piada, mesmo já tendo sido contada diversas vezes, clicou em figurinhas gargalhantes.
"Você não vai acreditar!", enviou, junto com uma figura do Scooby Doo assustado. "Fui adoçar o café e do lado de fora havia uma formiga parada em frente o potinho. Se eu tivesse uma lente daquelas potentes, certamente veria expressão de tristeza na cara aumentada dela, como a que faria alguém que da costa avista Ibiza, ou qualquer outra ilha paradisíaca, e não consegue atravessar a água para chegar até ela. Dentro do açucareiro, pasmem! Outra formiga, presa, que depois de saciar sua vontade de andar sobre os cristais, não conseguia sair". Bebia da xícara, ria, digitava. "Praticamente uma prisioneira daquela 'Alcatraz' do mundo das miúdas. Ilha para a de fora. Prisão para a de dentro!".
Haroldo voltou para a cozinha e diante daquela situação de extrema dificuldade para ambos os insetos, mostrou seu lado humano. Com um palito de dentes resgatou a presa. Com as pontas dos dedos, recolheu uma pitada do açucareiro e pôs na frente da formiga que ficou do lado de fora. Voltou com a xícara cheia e a alma leve - como provavelmente deve ser também a de uma formiga - para a frente do PC.