As três sacadas
Era um mulherão daqueles. Havia-se mudado para o prédio há não muito mais que duas semanas, pelos cálculos de Eduardo, que mal esperava a hora de poder conhece-la pessoalmente. Vira-a apenas uma vez, no elevador, e foi então que notou a coincidência: desceram no mesmo andar. Ela era sua nova vizinha! Naquele encontro fortuito e rápido não aproveitou a oportunidade, mas agradeceu aos deuses da indústria da construção civil o fato do terraço coberto de seu apartamento ser conjugado ao dela, ambos separados apenas por uma grade.
Fácil: iria abordá-la por ali. Era só ela aparecer. E fez cara de manhã de domingo, olhando a paisagem ao longe como quem não quer nada, à espera da aparição da moça. Mirava de quando em quando a varandinha vizinha e esperava... esperava... até que um gato acinzentado, de olhos muito azuis, apareceu para também apreciar a vista.
O gato da gata!
E não é que o bendito gato subiu perigosamente no guarda corpo? Eduardo arregalou os olhos e teve uma brilhante, magnífica, sensacional ideia: salvar o felino, oportunidade única para se fazer notar pela sua dona!
A fim de pular para o terraço da moça, subiu também no guarda corpo, como quem monta num cavalo. Mas foi com muita sede ao pote e sentiu entre as pernas a avidez de seu ato um tanto quanto impulsivo.
Gemendo de dor, entrou de volta à sala de seu apartamento. Deitou-se, posição fetal, e ali ficou, maldizendo todas as últimas sacadas do seu dia.
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Este texto faz parte do Exercício Criativo A Sacada
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