A ESTÁTUA DA JANELA
Ao redor, ninguém. Por mais que buscasse.
O peito arfava e ela não compreendia o vazio que ficou.
A beleza de cada instante vivido e a docilidade daqueles minutos, longos minutos, tudo se acabara e certa tristeza mortal tomara o espaço.
Os cotovelos ganharam calos de tanto encostarem-se à pingadeira da janela. Em vão. Fora confundida com a malignidade alheia. Tanto implorara, para que não acontecesse isso, mas o mal venceu.
Pedira muitas vezes que não a misturassem com a turba das ruas e solicitara que, após o último passante, não fosse abandonada.
Fora servil, imbecilmente servil. Tantas flores ela distribuíra naquela janela, não percebera que a roseira seria podada, assim que as rosas fossem dispensáveis. Chegou o dia.
Sua ingenuidade demorou a perceber a poda. Insistia em abrir a vidraça, em entregar o coração e a alma aos transeuntes. Pobres mãos presas sob a frieza dos vidros. A tesoura da poda era eficiente, aos poucos tosara-lhe a língua. Todos os canais foram fechados.
Gente boa não pode falar, extirpem-lhe a língua, diminuam o volume da voz gutural. Não atendam a seus apelos. É assombração, talvez carregue doença contagiosa. Finjam que não conhecem a moça do parapeito.
Assim, virou estátua na janela eternamente aberta. Dizem que uma lágrima congelou-se em sua face.
Dalva Molina Mansano