VOVÓ GILDA

Os ovos quebrados em uma vasilha, a farinha de trigo, o açúcar, o fermento, os demais ingredientes. Tudo minuciosamente separado conforme a receita tão bem guardada na cabeça.

O forno já preaquecido espera pacientemente, com sua bocarra quente fechada, abafando o calor que haveria de assar a massa.

Mãos vigorosas sovam aquela mistura dentro de uma gamela ovalada de madeira. Gilda é de uma segurança incrível! Também, são anos a fio fazendo da cozinha seu ofício e seu prazer. Com suas quitandas, criara os dois filhos, Jorge e Letícia, que hoje já têm suas próprias famílias e estão cada qual casados e muito bem casados, graças a Deus!

Hoje é um dia especial para Gilda. Irá rever os netinhos, depois de meses sem ouvir suas risadas, seus gritos, e presenciar a correria pelo imenso quintal repleto de plantas e animais domésticos.

Ela deverá estar com tudo pronto na hora em que eles chegarem de Goiânia. Jorge ligara quando estavam de saída e a viagem demoraria algo em torno de 3 horas.

Cozinha limpa e massa pronta e no ponto de ser abocanhada pelo forno quente, hora de tomar um banho enquanto espera assar. Gilda toma seu banho e, pelo espelho grande do banheiro, vislumbra seu corpo de 42 anos ainda conservando muito do viço de sua mocidade. É realmente uma mulher linda, cabelos negros e compridos, seios pequenos e ainda firmes, pernas torneadas, bumbum arrebitadinho, barriga lisa e bem cuidada, boca bem desenhada, olhos grandes e castanhos e um olhar triste.

Enviuvara muito cedo e não quisera saber de outro homem em sua vida. Queria conservar a presença de Walter, tão amável, apaixonado e responsável por ela e pelos filhos. Homem algum seria capaz de lhe fazer o bem que seu esposo fizera nos poucos anos em que viveram juntos, apesar das dificuldades por que passaram.

A água escorre pelo seu corpo, causando um torpor quente e gostoso, arrepiando sua pele macia. Apesar dos maus tratos da vida, Deus lhe permitira ser linda sem se esforçar muito. Gilda era uma das mulheres mais lindas e invejadas pelas outras moças e desejada por todos os rapazes da pequena Catalão. Mas fora Walter o homem que lhe bulira por dentro, plantando um amor vigoroso e único em sua alma.

Gilda espalha o sabonete pelo corpo, provocando uma espuma tênue que a água do chuveiro trata logo de escorrer para o ralo, tendo por testemunha o espelho que mais a devora do que reflete.

Banho tomado, Gilda escova os longos cabelos e veste uma roupa leve para ajudar a aturar o calor que faz logo pela manhã.

Chega na cozinha a tempo de retirar o bolo de dentro do forno. Ao cortá-lo em pedaços retangulares, ouve o barulho dos carros buzinando, quebrando o silêncio.

Abraços, beijos, sorrisos lindos, lágrimas de saudades assassinadas. Hora de corujar a todos. Hora de encher a casa tão silenciosa com os filhos, nora, genro e os 3 netinhos sapecas, que somem como um raio para o quintal da vovó.

Dessa vez, o sogro viúvo de Letícia viera junto... aiaiai!

Seria sana esta vontade repentina de guardar Walter no cantinho de aconchego de seu coração?

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 19/08/2015
Código do texto: T5352228
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