Tucanos, tatus e toupeiras
"Tucanos, tatus e toupeiras"
Em floresta republicana que se preze, não existe mais esse lance de “Rei dos animais”, pois isso é coisa do regime imperial. A bicharada, nas florestas republicanas, é eleita através do voto direto, e quem conseguir a maioria absoluta no pleito, ocupa o cargo executivo ao qual foi eleito. Portanto, é possível que o prefeito seja de uma espécie, o governador de outra, e o presidente, de uma terceira. Enfim, estas são as características da floresta republicana democrática. Na província mais próspera da selva, conhecida por “Locomotiva”, os tucanos estão no comando há um bom tempo. Muitos acreditam que eles estão acima de qualquer suspeita, mas sinceramente, eles nunca me enganaram.
Há quem diga que certa vez, um tucano quis aumentar o número de túneis subterrâneos na floresta, com intuito de tornar mais ágil a mobilidade da bicharada. A ave bicuda então resolveu contratar os serviços da espécie que possui maior conhecimento técnico para a realização de obras desta natureza: os tatus.
Como na república democrática florestal é exigido o processo licitatório para o início dos trabalhos, diferentes grupos de tatus se ofereceram para realizar a empreita pelo menor preço. O tatu-bola ofereceu um valor, o tatu-galinha outro, e o tatupeba, um terceiro. Mas canastrão que é, o tatu-canastra propôs a formação de um cartel, onde os preços seriam elevados e muito parecidos. Posteriormente, os tatus perdedores da licitação seriam contratados pelo grupo vencedor, prosseguindo com as obras, então superfaturadas. E assim foi feito, muito provavelmente com o conhecimento e a participação dos tucanos nos lucros ilegais do esquema.
Quase vinte anos depois, eis que perdigueiros estão na cola de tatus e tucanos. O tatu-canastra, canastrão que é, prometeu colaborar com as investigações em troca de não ser punido, em um trâmite conhecido juridicamente como delação premiada. O tucano, bom de bico que é, jura não saber do ocorrido, e diz que exigirá na justiça o ressarcimento dos cofres da província, movendo um processo contra tatus empreiteiros e servidores toupeiras, que promoveram a viabilidade burocrática do trâmite.
Como na nossa floresta republicana democrática sempre prevalece a “lei da selva”, que geralmente beneficia os mais fortes e influentes, pergunto: Será que a justiça punirá apenas as humildes toupeiras?
* O Eldoradense