Ói, óia o trem...
Pois o trem tinha aquele encanto, aquela força que nos subjugava. Barulhento, pouco confortável, lento, atrasado quase sempre a cem por cento, mas era imponente, mesmo na sua era de Maria Fumaça, que graça. E quando entrava, partia, que algazarra qualquer coração não fazia?
As estações, diminutas na sua maioria, mas que trepidação nelas se vivia. O relógio, infalível, e no entanto nunca respeitado, mantinha-se impassível, seu papel ao menos cumpria se corda recebia.
Ver o trem chegar, que delícia até no rememorar. A horda de meninos vendedores de tudo quanto era iguaria se achegava seu frenesi começava, e cada minuto contava para a moeda que raro tilintava. E na volta à casa não deixar a mãe brava, ela que com esmero, tudo preparava.
E o melhor que o trem tinha era não sair da linha, pese o rompante com que vinha...E no entanto, alguma fatalidade, que raro acontecia, entrava nos anais da memória, virava história e nunca mais se esquecia. Gente havia que ficava tão abobada diante daquele colosso que, parecia querer se imolar, oferecer o pescoço, só pra mais sentir com o trem se promiscuir. E vinha o apito, aflito, mas maktub, era o rito, tava escrito.