POBRE MENINA BONITA
No ponto esperávamos o ônibus, lá na periferia. Era uma muito fria manhã de julho, na rua de terrão vermelho o vento levantava poeira. Apareceu uma menina bonita, cabelos loiros e olhos azuis, roupa andraja que mostrava mais que escondia. A pele ferida pela periferia, toda seca, gretada e encardida pela terra vermelha. A menina com as duas mãos pedia alguma coisa para os irmãos, que passavam fome, juntos com a mãe doente e o pai bêbado e desempregado... Que nela todo dia batia. Minha namorada então disse:
"Morro de pena! Toda loirinha! É uma menina tão bonita..."
(...)
...Espera aí! Deixe ver se eu entendi: Se fosse negra não seria bonita? Se fosse feia podia na pobreza sofrer até não ter mais jeito de doer? Miséria é miséria: não é racista nem tem preferência estética. O namoro terminou ali mesmo, no meio daquele frio poeirão, na frente daquela menina bonita que tinha as mãos cheias de nenhum tostão.
"Morro de pena! Toda loirinha! É uma menina tão bonita..."
(...)
...Espera aí! Deixe ver se eu entendi: Se fosse negra não seria bonita? Se fosse feia podia na pobreza sofrer até não ter mais jeito de doer? Miséria é miséria: não é racista nem tem preferência estética. O namoro terminou ali mesmo, no meio daquele frio poeirão, na frente daquela menina bonita que tinha as mãos cheias de nenhum tostão.