Deu a louca na morte

A morte existe! Quase todo mundo tem medo dela e não é à toa. Ela deixa as pessoas em pânico e com vários questionamentos, como por exemplo: o que vai acontecer comigo depois? Será que eu vou suportar? E a minha família? Vão chorar ou soltar fogos de artificio? Bom, isso não tem como saber. Mas o que temos certeza é que ela vem fazer uma visitinha cedo ou mais tarde...Ok. Agora que fizemos uma introdução de leve sobre a morte, vamos iniciar a nossa história Deu a louca na morte! Em um certo lugar que eu acho que você não vai querer saber, estava sendo realizado à meia noite, uma reunião com todos os tipos de morte! Isso mesmo! Se você já acha ruim saber que a morte existe, imagina saber que tem tipos dela? Pois é, e lá nessa reunião tinha tipo até para colocar defeito. Tinha mortes rápidas, as que chegam devagar, as passionais, as insistentes, as acidentais e vai indo... Mas no meio delas tinha uma morte que era nova em seu oficio. Ela ainda não tinha levado ninguém dessa para melhor, e era bastante medrosa! Ela ficava até com calafrios ao saber que tinha que fazer visita a alguém que fosse chamado para morrer. E essa reunião era justamente para isso! As mortes mais velhas no ramo queriam treiná-la para não fazer feio. Enquanto a jovem morte estava tremendo de medo, a líder das mortes começou o pronunciamento. Ela era invocada, tinha até anel de ouro no dedo, e estava estreando a noiva foice importada, que havia comprado.

—Bem, queridas mortes! Hoje estou aqui para falar sobre a jovem morte. Ela precisa de nosso apoio, porque se recusa a começar a matar sem as nossas instruções.

Outra morte que estava ao lado dessa, disse:

—Besteira! É só ir lá na pessoa e dar a sentença! Por isso nem precisava dessa reunião.

A líder das mortes ficou com raiva, dizendo:

—Cala a sua boca! Esse é um caso diferente. Não percebe que a coitada está tremendo de medo?

—Ok. Mas precisamos ouvir o que ela tem a dizer para que possamos ajudá-la.

—Ok. Jovem morte, poderia dizer quais são suas dúvidas?

A jovem morte só não ficava vermelha que nem um tomate, porque era preta de natureza. Mas começou a dizer:

—Eu não quero matar ninguém. Por que as pessoas tem que morrer? É injusto!

Todas as mortes deram gargalhada e a líder das mortes gritou silêncio e explicou a ela:

—Porque é o ciclo da vida. As pessoas nascem, crescem e morrem. Lembra do pecado original? Todas as pessoas são pecadoras. Se não existisse pecado, elas seriam imortais.

—E para onde vão as pessoas?

—Aí depende...Tem umas que vão lá para baixo...Mas outras vão morar em um lugar lindo com Deus.

—Mas eu não sei se vou conseguir.

—Ninguém nasce sabendo. Agora pegue a sua foice e o seu caderno de mortes, para saber quem será a próxima pessoa a morrer. Ok?

—Ok...

A jovem morte não teve escolha, assim que as mortes foram saindo, ela pegou a foice e o caderno. Todas as mortes disseram para ela se acalmar, pois tudo iria dar certo. Ela estava com medo e isso causava espanto nas outras. Onde já se viu? Uma morte que tem medo de matar as pessoas? Ela olhou o caderno e por enquanto estava em branco. Todas as mortes tinham um caderno preto e quando surgisse um nome, elas teriam que ir atrás da pessoa.

Passou-se dois dias, e surgiu um nome no caderno da jovem morte. Ela ficou aterrorizada com o que viu. Não sabia nem por onde começar, aliás sabia, mas não queria nem pensar. Não teve outro jeito, as outras poderiam desconfiar, então ela foi até o lugar. Ao chegar lá, a pessoa era um jovem rapaz de 20 anos, bebendo cerveja, que nem café. A morte ficou com vergonha, mas sentou-se no banquinho ao lado do rapaz. Ele olhou para ela e nem deu moral. Então, ela puxou assunto.

—Oi. Eu sou a morte!

Ele a olhou, sorriu e disse:

—Sério? Vai me levar hoje?

—Sim. Você vai entrar naquele carro e bater em um caminhão, e vou te levar.

—Beleza! Eu já estou de saco cheio dessa vida...

—Ora, mas porquê? Você é um rapaz ainda cheio de vida.

—Cheio de vida? Seja coerente, dona morte! A senhora falou que eu vou morrer.

—Sim, mas há como reverter esse processo se me dizer por que está bebendo tanto. Eu posso ajudá-lo, porque não estou afim de matar alguém.

—Eu estou bebendo porque eu gosto...

A jovem morte estava com um laptop e falou:

—Não é só isso. Eu estou vendo aqui no seu histórico que você bebe por outro motivo também.

—A senhora tem minha ficha completa? –Ele gritou.

—Melhor você falar baixo, porque podem te achar louco, afinal de contas é só você que está me vendo.

—Ok. Mas a senhora sabe tudo sobre mim?

—Quase tudo. Tem detalhes que estão apenas no seu inconsciente.

—Ok. Hoje eu não estou bebendo apenas porque eu gosto. A minha namorada me deixou.

—Só por causa disso? Os humanos são tão dramáticos.

—Eu amo ela.

—Por que ela te deixou?

—Por que eu não sou rico. Ela arranjou um cara que tem tudo que eu não posso oferecer.

—Entendo...Então ela não gosta de você.

—Mentira. Ela ainda me ama.

—Se ela gostasse mesmo de você, ela entenderia que você não pode dar tudo para ela. Entendeu?

—Você não entende de amor.

—Ainda bem. Senão eu ia ficar muito melosa!

—Se me der licença...Eu vou embora.

—Espera! Tem tantas garotas por aí...Por que não investe em outra?

—Você acha?

—Sim.

—Mas eu vou morrer.

—Não vai. É só ir de táxi para casa.

—Ok. Valeu mesmo! Vou seguir seu conselho.

O rapaz chamou o táxi e a morte ficou tão feliz, que até bebeu o restante da cerveja do rapaz. Depois disso, todos os nomes que iriam aparecendo no caderno dela, ela ia dando conselhos para a pessoa adiar a morte. E no relatório de mortes, a jovem morte mentia toda vez e assim todas as mortes a elogiavam achando que ela estava matando todo mundo. Mas o que ela não previa é que a líder da mortes viu o caderno dela em branco. Isso ocorreu, porque quando a pessoa não morria, o nome desaparecia do caderno. Então, a líder das mortes foi falar sobre isso com a jovem morte.

—Não está preocupada com alguma coisa?

—Na verdade sim. A senhora viu meu caderno por aí?

Ela estendeu a mão preta com o caderno e a jovem morte ficou assustada.

—Não se assuste, jovem morte!

—Eu sinto muito.

—Você sente muito? Você é uma morte! Não deveria sentir nada!

—Eu não quero matar as pessoas.

—Esse é o seu trabalho. Entendeu?

—Não consigo.

—Você é ridícula! Será que não lembra do que comentamos na reunião?

—Eu sei, mas é tão bom avisar as pessoas que ela irão morrer.

—Isso não existe. A morte tem que inesperada.

—O que vai acontecer comigo?

—Você vai morrer.

—Não!

—Sim!

—Mas eu já estou morta.

—Nós podemos fazer você desaparecer.

—Ok. Eu prometo que não vou mais infringir as regras.

—Muito bom! Vou te dar mais uma chance.

Ela se cumprimentaram e a jovem morte começou a voar e gritou para a líder:

—É ruim, hein! Se depender de mim, as pessoas vão continuar vivas para sempre!

—Volta aqui, sua louca! –Disse a líder se mordendo de raiva.

Assim, a jovem morte continuou adiando as mortes das pessoas, mas quando os nomes delas apareciam em outros cadernos, não tinha jeito e morriam mesmo. Mas a jovem morte ficava feliz em pelos menos adiar por um tempo a morte das pessoas. Ela nunca mais voltou para perto das outras mortes, porque se voltasse, ela desapareceria. Por isso, ela ficou vagando por esse mundão e quando aparecia nomes em seu caderno, ela ia atrás, conversava com a pessoa, tomava cerveja e até dançava junto. Ela gostava mesmo disso. Era uma morte diferente que todos daquele lugar desejavam encontrar um dia.

Janaina Caixeta
Enviado por Janaina Caixeta em 01/08/2015
Código do texto: T5331373
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