Por que as joaninhas têm cores berrantes?
Do fundo do quintal a joaninha caminha até o jardim. Passa exibindo a carapaça vermelha de bolinhas pretas, levantando pernas, escolhendo lugar para pisar e de antenas erguidas nos fios curiosos.
– Um inseto que se estima! – murmura o pé de caju – Também com essa variação de cores que vão do vermelho ao alaranjado dar para se caminhar formosa e bela.
– Devo dizer – completa o mamoeiro ali perto – que a família dela, composta de parentes tão astutos como esta nos parece; sabem muito bem espantar seus predadores. Usam até a cor vibrante para esse fim... Não te lembras do que fez um antigo descendente das joaninhas aqui do jardim?
– Ah, como recordo! – diz o cajueiro – Já faz muito tempo!... Mas me parece tão viva a lembrança que se torna fácil de falar sobre esse assunto. Sei que houve uma chuva muito forte pelo mês de agosto como então quando eu perdia minhas folhas para começarem a nascer as flores para a safra de cajus...
– E você é tão velho assim?
– Velho eu não diria, mas tenho já uns cinquenta anos.
O cajueiro ergue os galhos, salientando seu tamanho dentro do quintal.
_ Sou uma das plantas mais antigas por aqui. É por esse motivo que posso afirmar que as meigas joaninhas são espertas; que fingem representar perigo com o colorido do corpo para escapar dos caçadores – exclama o cajueiro.
O mamoeiro, um pouco desconcertado, quase a pedir desculpas por se considerar ter ofendido o amigo com a pergunta acerca da idade, fica de folhas estendidas ouvindo o restante da história.
– Esse parente da joaninha, estava sendo perseguido por um pássaro e, já muito cansado, resolveu se esconder no chão. Era um pássaro de bico retorcido numa expressão quase de grunhidos pela perseguição, o que não causou surpresa a nenhuma árvore devido ao fato de que ele sempre nos pareceu muito esfomeado e barulhento. Mas naquele dia, a joaninha se deitou na terra alaranjada o que pareceu ao pássaro que ela poderia ser um inseto de gosto ruim, assim já seco como as folhas caídas.
O mamoeiro fica em silêncio.
– Eu sabia já da história, mas eu desconhecia os detalhes – pronuncia o mamoeiro.
– Que agora, você, pode ver como uma espécie de admiração da natureza – torna a falar o sábio cajueiro – Está vendo a joaninha quieta na rosa enquanto o passarinho voa em redor julgando que o inseto é um bicho venenoso por ter uma cor tão avermelhada?
Contemplativo o mamoeiro observa a cena. O sol bate nos galhos espinhosos da roseira: é motivo para o passarinho continuar seu voo pelo céu.
– Oba! ¬– exclama o mamoeiro – Enfim, a joaninha pode caminhar até as margaridas, como faz todos os dias.
O cajueiro encosta alguns galhos no mamoeiro por conta do vento (minhas folhas estão novamente indo embora?), não antes de ceder a um impulso natural para ver a joaninha pendurada num botão de margarida.