DEDOS DE PROSA
O bar, àquela hora da noite, estava quase vazio...
Pintada, decotada e sozinha, uma moça bebericava ao pé no balcão.
Após duas doses, o gordinho resolve se aproximar:
– Você é uma tremenda de uma gostosa, meu anjo.
– Não sou anjo nenhum, muito menos sua. Quanto à ‘gostosa’, eu concordo. Sou mesmo.
– Eita, que agora você já está sendo convencida, né?
– Realista é a palavra certa. Realista! Você mesmo não percebeu meus atributos?
– Tem razão... Escuta, você não vai olhar pra mim, não, hem?
– Por que eu deveria?
– Porque até onde eu sei, isso demonstra um pouco de educação, pelo menos...
– Bobagem, cara. E, olha, é melhor você me deixar em paz, que hoje não estou no meu melhor momento, não!
– Deixo, sim. Mas não sem antes lhe dizer que essa coisa que você está fazendo aí é meio nojenta, sabia?
– O quê, além de ser importunada num bar por um bêbado descarado?
– Ficar assim, mexendo a bebida com o dedo...
– Pois saiba o senhor que o meu indicador está muito do limpo, viu?
– Me desculpe, moça, eu não queria falar isso... Por favor, olhe pra mim...
– Aliás, todos os meus dedos estão superlimpos!
– Olhe pra mim, por favor... Converse comigo!
– Inclusive este dedo, olha aqui!
O dedo médio em riste e o olhar fulminante não assustam o rapaz.
Pelo contrário, ele até que gostou. De certa forma, já era um começo... Pequeno, mas era!