O Menino, o Tempo e o Vento
A um sopro do vento, uma leva de folhas secas valsa com estilo, mal comparando, como se fossem borboletas sem vida volteando no ar. Despem-se de suas árvores quais páginas de um velho calendário pregado à parede. Sacudidas, deixam sua base a fim de adormecerem no meio fio dos canteiros.
Mais uma rajada, outro punhado de lâminas se desprega dos ramos e flutua em forma de espiral, projetando piruetas aéreas, juntando-se aos montículos já deslocados no chão.
Dois olhinhos acompanham a trajetória das folhas que se despedem e contemplam com espantosa curiosidade o maravilhoso baile da natureza.
O menino, na pequenez dos seus oito anos de idade, pensa grande, igual à gente adulta: tudo ao nosso redor se transforma, as mudanças acontecem a todo instante, o tempo cuida desse processo de renovação.
Percebe a presença de pássaros errantes bicando sutilmente flores em forma de cálices coloridos, uma nuvem de abelhas zumbindo rente aos cachos das frutas maduras, sombras imitam o formato dos objetos.
No banquinho da praça, o garoto dá conta de um grupo de meninos que pratica o pega-pega, casais inúmeros gesticulam e trocam amabilidades, grandiosos flocos de algodão deslizam no límpido céu de verão.
Só então nosso pequeno espectador retira de dentro da mochila sua flauta de bambu e seus lábios produzem doces notas musicais.
O vento continua desprendendo as folhas... O menino propaga com suavidade a cantiga dos anjos... O sopro de ambos transforma tudo, tudo com a ajuda do tempo.