VOLTEI A WASHINGTON
Passeava tranquilo em Washington quando de repente comecei identificar avenidas e ruas por onde havia passado na primeira vez que lá estivera. Pensei cá com meus botões - que bom, minha memória continua funcionando apesar dos meus 63 anos. Depois pensei de novo; -isto não é novidade sempre fui bom em guardar imagens dos lugares por onde passo. Sou bom também em guardar número de telefones, pensei cá comigo, aliás, acho que aprendi fazer isto desde o dia em que assisti um filme, no meu passado de adolescente, protagonizado por Anselmo Duarte, onde se não me engano ele fazia o papel de um funcionário da empresa telefônica e conseguia gravar tudo que era numero de telefones. O filme se chamava: “absolutamente certo”.
Na realidade não sei que serventia isto pode ter na prática. Acho que serve apenas como curiosidade para testar a capacidade de memorização. Nada mais além disto.
-Bom - deixemos isso pra lá e voltemos à Washington. A cada rua que o táxi passava eu ia identificando e ao mesmo tempo me lembrava do que havia feito na cidade, como também porque, a havia procurado. Em muitas, passei por acaso, apenas como acesso às outras. De repente cruzamos uma enladeirada que dava acesso a outra enladeirada, quando então entrei em parafuso por me confundir e não mais saber se estava em Washington ou em São Francisco. Pensando bem, não me lembrei de ter passado por ruas enladeiradas em Washington. Em São Francisco sei que tem muitas, embora nunca tenha ido lá, sempre vejo nos filmes ou em reportagens da televisão. Finalmente para preencher o branco momentâneo que ocorreu em minha mente, pintou-se um quadro no final da ladeira, de um barzinho de esquina, onde havia parado para tomar um scotch, o qual pedi da seguinte maneira: “Waiter, please, give me one bang bang”. O garçom, por sua vez sem entender p... Nenhuma mandou de lá: - Sir! A big pardon...? Falei pronto, agora mifu... Bem feito; quem mandou me meter à besta! Mesmo assim não me intimidei e parti pro ataque repetindo o pedido da seguinte maneira: “ waiter, please give me one whisky without ice”. Mesmo assim, o meu inglês estava rasteiro demais para ser entendido por um americano que de modo geral fala muita gíria e abusa das expressões idiomáticas. Para minha sorte, estava ao meu lado um americano, que também por sorte havia morado algum tempo no Rio de Janeiro, e vendo aquele impasse resolveu ajudar -me ensinado como fazer o pedido de forma compreensível para o garçom. Então mandou: “ You just must ask,- please, may I have a scotch on straigt.” Puf….! – Finalmente consegui tomar meu bang bang. Na realidade, whisky bang bang, é uma corruptela que se popularizou na sociedade brasileira, por conta da forma como os caubóis de filme faroeste pediam a bebida: eles entravam no saloon, com suas armas no coldre e suas esporas sonoras, que junto com o toc toc das botas, sobre o piso do tablado, produziam a sinfonia do medo aos que estavam presentes. Alguns se levantam ligeiro, assustados ou com medo e tratavam de dá lugar ao forasteiro desconhecido. Este com sua cara de mau se dirigia ao balcão e mandava; - a whisky... mandava uma moeda de dólar e esquecia do please! Aí então, mais que depressa o garçom, incondicionalmente careca, muito bem arrumadinho de colete com a frente de seda e as costas de couro, de gravata borboleta, servia a famigerada bebida, que de uma só goelada era sorvida. Parece incrível, mas, no faroeste todos vestiam iguais, do mocinho ao bandido, passando pelo delegado. Algumas diferenças às vezes notava-se nos pastores. – Bom, mas o que isso tem a ver com a minha volta a Washington e a encrenca que arrumei por lá?
O fato é que novamente e sem saber como, fui parar neste barzinho. O táxi desapareceu e não sei como sai dele. Nem tão pouco me lembro de ter pago a corrida. Comecei então a olhar os pôsteres espalhados pelas paredes e entre eles havia o de uma artista famosa que não me lembro quem era e nem do seu nome. Me lembro apenas que estava deitada em um sofá longo e exibia gratuitamente sua genitália.
Olhei na direção da rua e tudo me parecia meio embaçado. Vi guardas pelas esquinas com seus impecáveis uniformes azuis e enormes cacetetes no coldre, todos de estética igual.
De repente aparece do meu lado um cidadão, começa a conversar mas não consigo identificar a linguagem. Pensei ser americano. Se mostra solícito e interessado em permanecer do meu lado, começa a falar português, mas não entendia bem o que pretendia. Senti que ele apresentava um certo interesse exagerado em me ajudar, embora não tivesse lhe pedido nada.
Num passe de mágica começamos a discordar, a discutir, nem sei o porquê. Só sei que de um único golpe o imobilizei, lancei mão de um canivete que portava, o qual me havia sido dado pelo meu filho no dia dos pais e comecei discecar o seu punho pela região volar, tentando atingir suas artérias e o fazer sangrar, até que parasse com o que fazia, que também não sei o que era. Ao vê-lo sangrando profusamente pelo pulso, tratei de estancar a hemorragia, fletindo o seu pulso ao máximo possível, comprimindo o ferimento e contendo com um curativo compressivo que fiz com o meu próprio lenço. O moço ficou maneta, mas de repente era perneta e andava sobre o coto sem expressar nenhuma emoção. Fiquei confuso, não sabia o que fazer diante do acontecimento. O melhor foi acordar. Mas, que fui Washington pela segunda vez, ah isso fui... e da maneira mais barata possível.
Por José Antonio da Silva ou Avlis Oinotna Ésoj– Cabo Frio – 14/08/2008.