Dançando com a morte
Tudo começou quando ela me abraçou. Tomou-me em seus braços, e começou a sua dança, lenta, mas a mais esplendorosa já vista. Ela começou devagar e sem palavras, apenas observando as pessoas ao seu redor sorrirem para a mesma, começou então a retribuir o sorriso, e ver todos ao seu redor se iluminarem com tamanha beleza e pureza. Passo para um lado, todos sorriem, giros todos choram. Ela não compreendia o motivo das lágrimas nas faces das pessoas que antes sorriam.
Ela não gostou de ver o choro, não gostou de ver que sua dança antes bela, agora trazia tristeza aos humanos. Então resolveu ir mais devagar com sua dança. E recomeçou, observando e sorrindo, sorrindo e observando. Até que começou a dançar só, sem precisar de mais ninguém, sem que ninguém lhe pegasse no colo e falasse “por aqui, você é muito jovem e nada da vida sabe”, mas foi ai que ela caiu, seu primeiro tombo.
Ninguém jamais a vira cair, ninguém jamais presenciou tamanha tristeza. E assim, pouco a pouco a multidão que a cercava, foram embora. Ao primeiro sinal de fraqueza a abandonaram.
Então a esplendorosa dança, que outrora encantava a muitos, hoje só era observada por poucos. Com o primeiro tombo, veio a desespero de se tornar perfeita, afinal isso é o que importa, a perfeição. Foi ai que começou realmente a luta.
A luta por conseguir realizar suas utopias, a luta de conseguir fama, poder e dinheiro. Devagar, e bem lentamente sua existência, começou a ser observada por olhos atenciosos, e cheios de lágrimas. A morte, triste ao ver o que a tão bela e graciosa menina se tornara, resolveu vir e finalmente segurar suas dores, acabar com todas elas.
A dança foi trocada por passos, os sorrisos por caretas, e finalmente das poucas pessoas que ficaram a observar desde o inicio, e sempre a sorrir, veio o choro. Um choro sem dor, sem angústias e medo, um choro guiado por pureza. Aconteceu tão belissimamente, foi devagar e com lagrimas nos olhos que vi, pela ultima vez, o espetáculo da dança da morte, ela veio, abraçou-me e disse “hora de ir, pois até aqueles que mais sentiram dor, merecem um descanso”.