O VIAJANTE

“Mais uma cidade se aproxima”, pensava Tomás guiando os cavalos que puxavam a diligência. O rapaz era um vendedor que percorria todo o país. Bom de lábia, todos diziam que ele havia nascido para os negócios. Em sua cidade, possuía um armazém onde vendia de tudo: picaretas para mineiros, laços para peões, belos tecidos para as moças mais bonitas da redondeza. No entanto, ele não estava satisfeito. Naquele lugar ele não mudaria sua vida. Então Tomás reuniu suas economias, reformou a velha diligência de seu falecido pai e investiu tudo na invenção farmacêutica da década: a “Essência Milagrosa do Doutor Tibúrcio”.

Animado com o que estava por vir, Tomás entrou na pequena cidade, parou seu veículo próximo ao Bar e começou:

- Venham! Venham! Conheçam esse milagre da medicina!

Rostos curiosos apareciam nas portas e janelas.

- Se aproximem, não tenham medo. Posso não ter uma cara muito bonita, mas trago até vocês o maior remédio que a humanidade já viu. Das colinas do distante Tajiquistão, das praias paradisíacas do Brasil e das florestas de pinheiros do Canadá, o Doutor Tibúrcio selecionou as melhores ervas para o tratamento de seus males. – uma multidão começava a se aproximar de Tomás.

- Está com problemas de cólicas, minha jovem? – perguntava o vendedor apontando para a multidão. – O garoto tem lombriga? Senhor! Isso, você mesmo. Tire seu chapéu, por favor.

Meio constrangido, um homem de meia idade encostado na porta do bar retirou seu chapéu.

- Como imaginei... A telha está acabando não é? Pois não se preocupe!

A Essência Milagrosa do Doutor Tibúrcio trará seu cabelo perdido em até quatro dias! Dou-lhe minha palavra ou seu dinheiro de volta.

O modo que Tomás vendia seu produto chamava a atenção de todos. Em poucos minutos, as cinco caixas da Essência que ele reservara para serem vendidos naquela cidade haviam acabado. À noite, Tomás resolveu andar pela cidade, se enturmar com seus clientes. Foi ao Bar, onde contou sobre como era maravilhoso andar pelo país inteiro, de cidade em cidade, vendendo seu remédio.

- Vocês não tem noção de como nosso país é belo. Existem paisagens de tirar o fôlego! – e falando mais baixo para os novos amigos. – Porém mais lindas são as mulheres. Por todo lado vejo as noras que mamãe pediu a Deus! Lindas, lindas, lindas. Mas meu coração já tem dona. – Tomás retirou do pescoço um colar com a foto de uma moça.

– Joaquina, o amor de minha infância. Está me esperando para casarmos.

E nesse ritmo a noite foi muito animada. Quando Tomás ia saindo do Bar, viu uma luz acesa no fim da rua. Espiando pela janela, avistou a moça que tinha visto mais cedo, perguntando se tinha cólicas. Ele bateu em sua janela, ela abriu-a e então começaram a conversar. A lábia de Tomás não era boa apenas para vender medicamentos e logo os dois foram para a cama da moça e ela teve uma das melhores noites de sua vida.

Quando ela acordou, não viu Tomás a seu lado. Ninguém mais viu o esperto rapaz que vendia os produtos do Doutor Tibúrcio. Ora, ele deve ter saído cedo em busca de mais clientela. Porém ao fim do quarto dia, o senhor careca ainda continuava careca e o garoto com a barriga enorme de tantas lombrigas. Agora sim todos entendiam o porquê de sua fuga noturna.

“Mais uma cidade se aproxima”, pensava Tomás guiando os cavalos que puxavam a diligência. Suas viagens pelo país não eram um trabalho, ele não tinha ninguém no mundo que esperasse pela sua volta. Ele queria era aproveitar sua vida, conseguindo um dinheiro fácil e amando as belas donzelas que encontrava pelo caminho.

Túlio Lima Botelho
Enviado por Túlio Lima Botelho em 18/07/2015
Reeditado em 18/07/2015
Código do texto: T5315642
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.