O Entregador das Caixinhas de Paz
O Entregador das Caixinhas de Paz
Contou-me uma mulher que, uma vez, entre um afazer e outro das tantas reformas da sua casa-coração, alguém tocou a campainha. Ela estava cansada, mas satisfeita com o seu esforço em tentar colocar em ordem toda aquela bagunça.
Muitas coisas ela mesma desarrumou. Umas outras tantas, a forte ventania adentrou as suas janelas abertas. E tirou tudo do lugar.
Contou-me ela que, ao abrir a porta, um homem segurava uma caixa que parecia levezinha. E junto a ele, um pequeno grupo de pessoas. E estavam todos com “cara de labuta”, mas muito sorridentes.
E disse-lhe ele assim:
- Todos os dias eu recebo várias caixinhas como esta e tenho que as entregar. O senhor que as pede para entregá-las, passa por mim e diz-me: “Só entregues a quem a queira receber”.
E hoje estamos aqui. Mas pedimos desculpas por nossas vestes assim, sujas de tinta e empoeiradas. Úmidas de lagriminhas nossas, tuas e de toda a gente. É que, como nos pede este senhor e com a tua aceitação, começamos logo a labuta, sem cessar, na tua casa. E começamos com muitos abraços e silêncios difíceis. E depois, com muitas palavras edificantes e muitos conselhos.
Mas atenção: quando percebemos que está tudo muito nublado nas janelas do olhar, é momento de prantear. E nós silenciamos e pranteamos todos juntos. Mas cada um de nós traz um lencinho branco para servir, assim como nos pede este senhor das entregas das caixinhas de paz.
Sim! … São entregas de caixinhas de paz!
Cuidamos do teu céu e muitas vezes tu nem percebeste. E pintamos ainda mais de azul. E pomos lá um sol muito amarelinho e repleto de esperanças. E jogamos sementinhas de flores nos canteiros da tua casa. Mas tens que regares. Soltamos ainda algumas borboletas-sonhos. E música de anjinhos de Deus à tua volta. Mas precisas quereres sentí-las. Mais do que ouví-las com os teus ouvidos. É preciso que a melodia seja água e te ajude a limpar tudo. Porque ela também vem do senhor entregador das caixinhas de paz.
Eu e este grupo também nos preocupamos em perceber o teu olhar. Sabe como é... O olhar nos fala mais do que a boca. Ele reflete tudo o que vem da tua casa-coração.
Então aumentamos o brilho do teu olhar, assim como permitiste. E o contraste do teu sorriso. Porque tudo deve estar em harmonia com os sentimentos que estão dentro desta tua casa. Tudo isso nos inspira e recomenda com amor o senhor entregador das caixinhas de paz.
Contou-me ela que aquela mulher estava atônita. Quieta.
E continuou o homem:
- Vem e nos dá um abraço. Mas cuida da tua caixinha de paz. Ela é frágil.
Rega as sementes de flores que aqui deitamos e toma conta de tudo o que nós ajudamos a consertar com a tua permissão e as tantas recomendações amorosas do senhor das entregas das caixinhas de paz. E, antes que eu me esqueça, o senhor envia-te um bilhetinho.
Contou-me ela que aquele homem de semblante cansado começou a a abrir o bilhetinho. Disse-me ainda que percebeu que todos os que estavam com ele faziam rostinhos de muito contentamento. E que não teve ela a menor dúvida: todos eram certos do que dizia o bilhetinho. E o homem leu:
“Não temas. Segues adiante com pisadas fortes. Confias em mim.
E se por acaso caíres novamente, eu estou aqui. E te levantarei muito antes do que tu possas imaginar. Trabalha-te e segue a olhar para os lados em fraternidade. E nunca duvides do meu amor por ti.”
Ela mal conseguiu terminar de contar-me sobre esta visita sua que conseguiu até mudar o meu dia! ... Estava muito emocionada e chorava contentamentos.
E eu abracei-a. E fez-se Luz à nossa volta.
Karla Mello
15 de Julho de 2015