Poesia de Alice

Não podia passar naquela rua sem presenciar o sorriso de Alice. Alice, das mulheres raras, das especiarias caras. Ela comia orgânico e lia sobre o sobrenatural. De manhã, gergelim e pão integral.

Lia pouco jornal, mas sabia das notícias de maior cunho social.

Uma poetisa, escritora, sonhadora, que ria das projeções mais pessimistas, aquilo era o circo que vendia, era a obra falida de um decadente artista. De outra maneira, também ria Alice de si mesma, do aumento do tomate da salada com rúcula, da música de 60 embalada pelo iê iê iê...Muitos apreciavam o “twist”.

Ela admirava os vestidos lindos de promoções relâmpago em lojas de grife, aqueles vestidos tinham ambições enormes, tinham projeções de sucesso, eram de bailes perfumados, eram de debutantes, eram de cortesãs de arranha-céus brilhantes... Ela adquiriu botinas para andar nas noites boêmias da orla marítima, o beiju que comia tinha só manteiga passada na hora, e o café torrado e passado no pano...que coisa boa !

Alice sabia que independente do que o futuro a trouxesse de desamores, de soluços sem chá de menta, de domingos sem cinema, de pipocas solitárias, de política desonesta e precária, sempre seria ela mesma... com cachos sedutores, com seios entumescidos de amores, com risadas a perder de vista ! Ela buscava um carinha independente e criativo, podia ser um webdesigner, um chef de cozinha, um militar na ativa, um nadador com braços fortes e ofegantes de piscina.

Aquela mulher assim como Iozzi não curtia música universitária, nenhum tipo de balanço regado a chopps e sexo barato. Tinha todos os bares pra este tipo de gente na cidade, mas ela não osfrequentava.

Onde ela andava, se recitava poesia, se tocava Cazuza, Renato Russo e Engenheiros. Quantas mulheres se viam como Ana da música deles ! A geração de 80 curtia poesia, A música era pura poesia, a novela era pura poesia ! A vida recheada de boemia ! O coração tão emotivo e intransigente do sulamericano era imerso em poesia ! Tomara que assim continuasse como pretendia Alice por meio de seus escritos...Tomara !

12 jul 2015

Vinicius Santana