Às Portas do Olimpo

Às Portas do Olimpo

Jorge Linhaça

No tempo em que os deuses e homens caminhavam juntos pela terra, tudo era possível nessa convivência nem sempre pacífica.

Zeus, um dos mais “galinhas” entre os Deuses casou-se com segunda esposa, chamava-se Têmis, justa e coerente, sua imagem pode ser vista hoje representando a justiça , aquela mulher de olhos vendados, uma espada em uma mão e uma balança na outra.

Desse matrimônio nasceram as três Horas originais: Dice, responsável pela justiça humana; Eunômia, cuidadora da disciplina e equidade das leis e do aperfeiçoamento do ser humano e Eirene, a paz advinda do cumprimento das leis.

Uma das tarefas dessas deusas era cuidar da ambrosia, o alimento dos deuses, e servi-lo aos humanos que mostrassem merecimento de receber a imortalidade e deificação.

Pois bem:

Certo dia, estavam as três deusas compenetradas em seus afazeres, quando, chegaram à porta do Olimpo, trazidos por Hermes, o mensageiro dos deuses, um general, um senador e um poeta, ambos candidatos a partilhar da desejada ambrosia para ascenderem ao Olimpo como habitantes do panteão.

Éfido, o general, havia nascido pobre e galgara sua patente através de grandes façanhas nos campos de batalha, além de ter se casado com a filha de outro general, antes de adquirir sua patente.

Arqueleu, o senador, era um ótimo orador e cuidava da criação de leis e dos assuntos da Cidade Estado, sendo estimado por muitos e odiado ou invejado por outros tantos.

Hesídrio, o poeta, registrava em seus versos as façanhas e mazelas de deuses e homens, emprestando sua arte à história de sua amada Grécia.

As três irmãs deveriam, em consenso, decidir qual ou quais deles deveriam receber tal honra. Para isso necessitavam conhecer a vida de cada um e, para tanto, apelaram às suas meio-irmãs, as Moiras:

Clotó era responsável por tecer o fio da vida, desde o nascimento de todos os seres humanos; Láquesis examinava a vida de cada um deles para determinar a hora justa em que cada um passe por determinados acontecimentos, já Átropos era a responsável por cortar o fio da vida tecido por suas irmãs e por fim à existência mortal dos homens e mulheres.

Consultadas as Moiras, as vidas dos três foram sendo detalhadas, de forma que, as justas Horas pudessem avaliar as pretensões de cada um dos três homens diante de si.

Éfido, além do já exposto, atraiçoara companheiros de armas e levara-os à morte nos campos de batalha a fim de abreviar a sua espera por honrarias e patentes.

Arqueleu conspirara para desmoralizar seus antagonistas no Senado, chegara a conseguir que alguns deles fossem condenados ao ostracismo, longe de sua amada terra.

Hesídrio vivera, até então, uma vida pacífica, imerso apenas nas angústias e alegrias próprias da alma dos poetas, sem muitas aspirações a honrarias ou fama. Fazia o que gostava e gostavam do que fazia, não tinha grandes posses, mas também não passava grandes necessidades.

Depois de muito deliberarem entre si e com as Moiras, as Horas se retiraram e voltaram com três taças de puro ouro, todas quase cheias com um liquido dourado e apetecível aos olhos.

Pela ordem, cada uma tomou a palavra, a primeira a falar foi Eunômia:

Cada um de vocês tem o seu peso na história, cada qual conhece, dentro de sua própria esfera e especificidade a lei e suas aplicações.

Cada um de vocês, falou Dice, tomando a palavra, conhece também os castigos para cada delito praticado. Assim sendo, cada um tem, dentro de sua consciência, a resposta para o seu próprio pedido. Sim ou não, vida eterna ou morte.

Tomando da palavra, Eirene continuou, revelando:

Diante de vocês está o destino de cada um, representado pelas três taças, Cada uma delas tem o nome de um de vocês. Somente uma delas contém ambrosia que lhes dará imortalidade e vida eterna com os deuses. As outras duas contém veneno que pode abreviar suas vidas mortais. Cabe a cada um decidir se corre o risco ou não.

Diante de tal revelação os três homens quedaram-se pensativos, a imaginar se sua vida pregressa lhes permitiria ser digno dos almejados atributos.

O general Éfido, com a testa suada, foi o primeiro a rebelar-se contra tais desígnios e num rompante típico dos militares, evocou suas façanhas nos campos de batalha.

Arquelau ficou indignado diante de tal teste e reforçou a sua legislatura, a sua atenção para com a adoração aos deuses e os sacrifícios oferecidos a eles ao longo de sua vida.

Já, Hesídrio, após ver a reação dos outros homens e ouvir seus argumentos, ainda que vacilante, dirigiu-se à deusa que portava as taças (Dice) e tomando-a nas mãos foi lentamente levando-a aos seus lábios, sorvendo o liquido ali depositado. Uma luminosidade envolve-o e recebeu ele a imortalidade e a vida eterna.

Ao verem o sucedido, Arquelau e Éfido retiraram-se dali, temendo pela própria vida.

Na verdade as três taças continham ambrosia e foi o temor de suas fraquezas e delitos que impediu que os dois ganhassem a imortalidade como Hesídrio e vivessem para sempre.

Hesídrio tomou de sua harpa e , tocando ele divinal melodia, puseram-se as Horas e suas outras irmãs a dançar em comemoração ao novo deus e imortal.