Ascanthopédia - Parte 2

Que tipo obscuro de desejo?

Como uma pessoa destinada a ser rainha pode ainda querer mais?

Ser Rainha de uma rainha! Isso é obscuro o suficiente. Porque é quando deixa-se de governar o poder, para ser governado por ele. E isso nunca acaba bem. Alakina era Assim .

Mas o menino que descia as escadas para recebê-la não a conhecia assim, apesar de todas as evidências.

-Deixe para os serviçais a preocupação com os meus pertences! Por que você sempre insiste em carregá-los, Enki-du?

Enki-du... E aqui apresento-lhes o jovem príncipe. Este é um nome que não era um nome. Por isso não houve pressa em revelá-lo. Enki-du era uma expressão que pretendia dizer: Supremo governante de reis. Não era um título, porque títulos são dados a mais de uma pessoa. Enki-du era mais como uma expressão exclusivíssima, bem menos do que um nome, muito mais do que um título. Mas era assim que ele era chamado, e por ele mesmo conhecido.

Alakina de Iasperah tratava os seus súditos de uma forma tão hedionda, que Enki-du se apressava em ajudá-los, na esperança de apaziguar-lhes a tortura de permanecerem mais tempo perto dela. Fazia isso quase que instintivamente. A jovem princesa sequer havia alcançado a puberdade e já importunava os mais fracos com o seu gênio mal. Mas, Iasperah inteira - a terra das árvores gigantes - depositava nela a esperança de um dia ser a capital de Ascantha, caso ela se casasse com o governante de reis.

Mas, talvez se perguntem agora, o que faz um futuro rei sozinho, oculto num castelo imenso perdido numa ilha há muito vazia? Um dia houve uma Enki-du. E ela governou Ascantha de uma forma inesquecível e honrada. Fora um período dourado de prosperidade e justiça que jamais foi esquecido. Mas como sempre há de ser, os seguimentos mais poderosos e privilegiados de Ascantha não se sentiram felizes com isso. E nos corredores mais escuros do poder, uma grande conspiração nasceu! Pois no dia em que a suprema governante, mãe do Enki-du atual, morreu, ele fora mantido no castelo, para ali ser condicionado a governar para os poderosos, e não para o povo, como sua mãe outrora fizera.

Crescer normalmente entre as pessoas, com amigos comuns, poderia influenciá-lo a governar com bondade e justiça, assim como feito antes. Era necessário mantê-lo num circulo de influencia, e ali condicionar o seu comportamento. Mas essa história é sobre corações, e corações de heróis não são facilmente corrompidos, como mais tarde se verá nesta mesma história que eu vou contar.

Então, buscando isolá-lo do povo, esvaziou-se a cidade, o castelo, esvaziaram-se os bosques e as montanhas. Nada sobrara, apenas aqueles que poderiam trazê-lo para o "melhor lado". E Alakina fazia parte desse lado.

Mas os conspiradores cometeram um erro! Não afastaram os manuscritos, pergaminhos e livros da grande biblioteca. Não havia muito o que se fazer por ali, uma cidade inteira vazia... e então, um dia, ele foi parar dentro da grande biblioteca do castelo. E, manuseando livros, desenhos e mapas, encontrou um que lhe aguçou a curiosidade...

Falava sobre uma campina sagrada, além do bosque assombrado de Limelim. Um lugar de magia e encantamento, onde vivia um homem que sabia todas as coisas que se pudessem saber. E embora Enki-du fosse muito jovem, havia uma pergunta que ele queria muito ver respondida. Era sobre uma luz dourada, que explodia em flashes no horizonte, todas as manhãs e no final de todas as tardes em que ele pôde se lembrar, e que durante muito tempo assistiu da janela de seu quarto no alto do palácio. Talvez tenha sido essa luz misteriosa que despertou a sua curiosidade, a responsável pelo destino final de Acantha. Eu nunca deixei de pensar assim...

London
Enviado por London em 07/07/2015
Reeditado em 19/07/2017
Código do texto: T5302515
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.