A árvore que balançava e a criança
A árvore balançava. Em cima do morro. Emoldurado pelo céu azul, onde algumas poucas pinturas de nuvens podiam ser vistas. Entrecortada pelo vento que sacudias as folhas miudinhas. Arrastando pequenas gotas.
Debaixo dela, uma boa sombra, e a sensação de chuva das pequenas gotículas que ela emprestava ao ar.
Uma pequena menina de um ano e meio, mais ou menos, que já estava prática na ação de andar sozinha há alguns meses, e por isso corria, corria, corria, sedenta de liberdade. Levantava o seu dedinho de bebê. Aquela coisa pequena e linda. Tão pequena que parecia de boneca, tão perfeita que lembrava a antiga descrição dos anjos.
Tocava a textura da árvore e abria a boca. Fechava os olhinhos.
Sonhava com o sabor de todas aquelas novidades. As frutas suculentas lá em cima fora do seu alcance. O céu tão infinito, os pássaros tão livres e belos. A vida. Tanta novidade. E aquele lugar tão calmo. Bastante diferente dos roncos altos das motos, carros e discussões que se ouve ao caminhar pelo asfalto de uma cidade. Ali não. Tudo era verde. Milhões de pequenos seres muito menores que ela espreguiçavam-se ao sol, descansavam.
Uma pequena casquinha de árvore já era mordiscada, espalhando e sujando sua boquinha, quando sua mãe chegou.
- Não pode... Não pode colocar isso na boca linda.
E o tempo parava. Tudo parecia desaparecer frente aos olhos da sua mãe. Eles eram a coisa mais linda e mais bela que ela já vira. Talvez a primeira coisa que vira no mundo, ainda que não soubesse. Ela navegava neles. A figura da sua mãe era algo tão intrigante, tão misteriosa.
Logo ela estava correndo de novo. Agora sua mãe é que deveria correr atrás dela. Afinal, não era justo que ela amasse tanto aquela mulher, ela que nem sabia que aquele sentimento todo tinha nome, e que aquela mulher maravilhosa, sua mãe, não a amasse a ponto de correr atrás dela e a alcançasse.
E sua mãe teria que correr muito, porque ela correria, o máximo que pudesse, e talvez até voasse, como aqueles outros pássaros no céu.