O teatro do cotidiano
Era muito cedo ainda, embora os raios do Sol já alcançassem a beirada da minha cama, numa quarta-feira, meio da semana! O sonho que passava era um dos melhores possíveis; sabe aqueles sonhos que você não se recorda, mas sabe que era um excelente sonho? Era um desses. O dia já me queria, clamava por mais uma atuação da minha parte, embora a atuação fosse a rotineira: O trânsito, o trabalho, o almoço com colegas, o trânsito, a janta, o sono e fim do espetáculo, até amanhã com o mesmo teatro da vida real. Mas não sejamos precipitados, ainda era manhã. A música que eu mais gostei um dia, hoje a odeio, pois é ela que me desperta todas as manhãs. O olho quase não desgruda, a cara amarrada de quem não tá gostando nada de acordar, pego o celular para desativar o despertador e penso: Esse despertador podia estar enganado, hoje bem que poderia ser feriado. Mas não, é só quarta de manhã. O corpo levanta com os olhos 10% abertos, 90% fechados e temerosos em abrir por completo. O caminho ao banheiro se faz automaticamente, mas arrastando os pés, eles parecem querer voltar para a cama e assumir a falta injustificada. Não posso, o trabalho me chama, muito embora com uma voz de vilão. O banho, a roupa de trabalho, o café da manhã, o trânsito e o trabalho. E no caminho às vezes vejo um mendigo esparramado no chão, com sua coberta, num sono tão bom. Pode ser pecado, mas que surge uma pequena inveja daquele sono, não posso negar. Não consigo pensar em nada durante o expediente, a não ser nela: na cama. O trabalho tira meu sono, o sono tira meus pensamentos. Após toda a tortura, pego o caminho de volta para meu lar, doce lar, o trânsito amarrado, ouço musicas no trajeto de volta, evito a música do despertador, claro. Quando chego em casa, banho, comida, escovar os dentes e dormir. Rápido como escrevi, sei que quanto mais tempo demorar, menos tempo dormirei. As cortinas se fecham e não ouço aplausos, o público não se contentou com a falta de novidades dessa peça, amanhã a mesma atração se repete.