O que não lhe quer, haverá um novo querer sempre
Eu caminhava pela rua sozinha, o tempo se fechando, e meu coração se estendia em confusão e turbilhão de emoções. Queria prestar atenção as coisas a minha volta, a vida era só uma, e se deixasse as coisas passarem, tudo iria escorrer, sem qualquer significado, mas ainda assim...
Não podia analisar as belezas do mundo, se meu coração estava feio, machucado e extremamente confuso.
Mas então percebi. Como um estalo, uma luz, uma mágica, a resposta me veio, fácil, coerente e bastava eu realmente encontrar a resposta.
Olhei bem os casais, os sorrisos discretos, o olhar delicadamente sedento de paixão, a amizade, as alianças, o companheirismo, e oh... oh, sim, o amor.
Não sei como notei, mas ao olhar com os mínimos detalhes para um casal tudo o que vi foi uma carícia no rosto.
Mas não era somente isso.
Não era somente aquilo.
Era imensidão.
Era paixão.
Era o que eu queria ter tido.
Pensei nos meus sonhos com um outro alguém.
Meu coração machucado, e minha solidão.
Ninguém se encontrava ao meu lado.
Eu estava mutilada. Sozinha. E rodeado de amores.
Mas nunca os meus.
Enquanto o outro lado seguia sua vida.
Eu me encontrava analisando os outros.
Se era justo? Absurdamente que não.
Cansada de tudo, dessa farsa que era a vida, se sentindo desprezada e pisada pelo próprio destino, resolvi ir para casa, quando uma mão me tocou.
- A senhora pode ficar aqui comigo? - uma criança pedia. - Me perdi do meu pai.
Tudo o que mais queria era sair daquela imensidão de pessoas e vidas, no qual eu parecia não me encaixar em nenhuma. Ainda assim, olhando para aquele rosto, eu sorri. Eu ficaria.
- Porque a senhora está triste?
- Porque simplesmente achei que alguém me amava e que daria tudo certo, mas... não deu - eu respondi.
A criança apertou minha mão, sorrindo. - Dará tudo certo! - ela disse, então apontou para um homem, alegando ser seu pai.
Eu corri até o homem e apontei para a criança dizendo que havia achado seu filho, mas quando me virei a criança se foi.
- A senhora está brincando comigo? - ele indagou magoado. - Não tenho filhos, meu último filho morreu num acidente.
Fiquei sem palavras. Meu mundo parecia girar. Olhei para aquele homem, os olhos dele tinham tanta tristeza. Meu coração estava tão machucado. Só queria seguir. E eu o faria.
Naquela percebi que as coisas acontecem a seu tempo. Não merecia ficar triste por algo que não cabia a mim. Eu merecia amor. Merecia alegria.
O encarei, sorrindo.
- Será que aceita sair comigo pra tomar um café?