Perseguida
Percebi que ele me seguia logo que cheguei. Onde eu ia, lá estava ele, me buscando com o olhar. Suspeito, muito suspeito. Assustador, é verdade. Mas havia também algo de lisonjeiro em sentir-me assim, magnética àqueles olhos verdes, faiscantes, iluminando o rosto belo e bem cuidado de homem. É claro que eu fazia por merecer essa atenção. Estava usando um belo vestido vermelho, justo, desses que valorizam o corpo de uma mulher como eu. A maquiagem impecável, o cabelo escovado num penteado perfeito, o salto quinze que domino com destreza completando o quadro com elegância e sensualidade. Eu só podia observá-lo nas poucas vezes em que algum movimento mais ligeiro meu na pista de dança me protegia de meu perseguidor, tirando-me de seu campo de visão. Numa dessas oportunidades, esgueirei-me por um corredor que dava acesso ao salão por outra extremidade e, de lá, pude observá-lo bem, enquanto ele parecia aflito tentando identificar-me entre os casais que rodopiavam ao som de Katie Melua.
Era realmente um sujeito atraente, elegante em seu terno preto, o cabelo bem cortado, a barba perfeitamente escanhoada, queixo e maçãs do rosto proeminentes, bronzeado. Justamente, quando me dei conta de que, de onde eu me encontrava, poderia facilmente ganhar a rua e escapar de vez desse assédio, uma pessoa parou para cumprimenta-lo e ele sorriu. Que sorriso!
Alguém com uma boca daquela que se abriu em simpatia ao conhecido, não poderia ser uma má pessoa. Resolvi acabar com aquele jogo de gato e rato.
Tomei a direção da varanda do outro lado e passei à frente dele, dissimulada e insinuante. Como eu esperava, ele se aproximou, interrompendo minha caminhada com um toque suave em meu braço. Olhei para ele fingindo surpresa e até alguma impaciência por ter sido abordada assim. Ele abriu novamente aquele sorriso maravilhoso e disse, com a voz mais linda que eu jamais ouvira:
- Ah! Até que enfim consegui alcançá-la!
Sorri também, e fiz a minha melhor expressão de desinteressada curiosidade, para que ele prosseguisse. E ele não se negou a isso:
- Sou da segurança, - ele começou exibindo o crachá - e seu carro está ocupando duas vagas. Pode me acompanhar até o estacionamento, por favor?
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Perseguição
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