RETALHOS DA INFÂNCIA

Todas as tardes iniciava-se a jornada de banhos na bacia. Começava do mais novo para o mais velho, primeiro as meninas. Água aquecida no fogão a lenha, carregada da mina. Quando terminado o último banho, da longa fila de crianças, já estavam as lamparinas acesas. Todos a postos em colchões de palha e cobertas de tear. A mãe exigia silêncio, antes que o pai chegasse. Cada um adormecia ao seu tempo, um ou outro fingia adormecer pra não ver o pai chegar. E a menina, na escuridão, acendia estrelas. Pelas frestas da janela imaginava céu estrelado, lua e vaga-lumes que lá fora certamente enfeitavam a noite. Era bom quando um vaga-lume errava a hora e a direção e entrava furtivamente no quarto antes de anoitecer. Seu pisca-pisca era sonho. E a menina não via a chegada tenebrosa . Adormecia em paz.

Oneida Resende
Enviado por Oneida Resende em 16/05/2015
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