Até as últimas consequencias...
Ele se convenceu de que ela era tudo que ele queria desde o primeiro momento em que colocou os olhos nela. Linda, com belos cabelos castanhos ondulados, que combinavam perfeitamente com os indescritíveis olhos de mesma cor por trás dos óculos que davam um charme maior a ela. Sua voz era doce e suave e cada vez que conversavam se divertiam juntos. E como eram parecidos em gostos! Tudo que ela dizia concordava com suas próprias convicções.
Começou com uma amizade inesperada, mas, no segundo dia da faculdade Ana já fazia parte de seu coração. Cada gesto, cada trejeito, cada sorriso, era capturado e transmitido a seu coração. Ela, não tinha aula, ele, matou aula, e passaram todo o período do curso juntos, se conhecendo, se divertindo e uma profecia autorrealizadora se formava na mente dele: ela era perfeita demais para passar direto sem ser notada por ele.
Vinny, apesar de receoso com a ideia de gostar de alguém, após ter sido desintegrado por sua ex-namorada, percebeu o quanto era parecido, e de atração virou paixão, de paixão virou amor...e após ter confessado seus sentimentos e eles terem sido rejeitados, este amor virou obceção.
Desesperado e perdido por não saber se seria correspondido ou não, apressou as coisas e foi logo contando o que sentia, mas recebeu um "nós mal nos conhecemos..." dela. Doeu como uma punhalada ao lado do coração, não o suficiente para mata-lo, mas, o bastante para desabilita-lo de muitas coisas. Ia mal em seu emprego, sentia desprazer em estar na faculdade. Os remédios que necessitava para sobreviver não funcionavam, as vezes, faziam ele se sentir até mesmo pior.
As coisas, nos dias seguintes o deixavam maluco, por se esforçar para conseguir o afeto de Ana e pela apreensão que sentia.
"Acho que não é assim que tem que ser...talvez o melhor seria desaparecer...mas, como se até o ar que respiro acabo por perder?"
Levou-a para um canto solitário, onde outros olhos não olhavam, percebia como ela o hipnotizava. Resolveu então se confessar novamente, e sentiu outra punhalada: ela gostava de outro. Ele a amava e a desprezava.
Quanto mais os dias passavam e conhecia sobre o relacionamento dos dois por ela, mais o ódio crescia dentro dele, e se inconformava pelos detalhes que existiam e lacunas que ele perfeitamente poderia preencher se ela o visse com outros olhos. Resolveu levar seu sofrimento até o fim.
Em uma noite solitária, escreveu tudo que sentia por ela e entregou a ela no dia seguinte. Ela não apareceu por um tempo...mas ele estava determinado.
Encontrou-a na saída da faculdade, sua mão empurrou o corpo dela contra a parede e disse, em lágrimas:
--Não consigo mais viver sem você, te amo, te amo mais do que a mim mesmo. Por favor, me dê uma chance.
Assustada, mas, convicta, ela respondeu -- Não é possível, você sabe que eu gosto de outr...--mas foi interrompida por um grito de Vinny: -- Outro que não gosta nem metade do que eu gosto de você!
Ela suspirou, e firme, disse: --Mas não posso negar o que eu sinto, e não posso dar uma chance a você, sentindo isto, seria errado...
Mil maneiras de matar a hipotenusa deste triângulo passou pela mente de Vinny. Se ao menos soubesse onde encontra-lo. E ela? O odiaria por matar aquele que ela amava. Odiaria para sempre. Lembrou-se do canivete que carregava. Ana olhou assustada para a lamina.
O golpe foi rápido e preciso. Cravou a lâmina na própria garganta. Ele a amaria...até a morte. Em seu bolso, suas últimas palavras para ela...