796-BÚFALOS E JACARÉS NA II GUERRA MUNDIAL- História de guerra

Perdido no meio do imenso Oceano Pacifico, o Atol de Tarawa é o lugar apropriado para o Judas perder as botas. São vinte e quatro ilhotas de coral cuja altitude não vai além de três metros acima do nível do mar. Um calor de rachar que não é amenizado por algumas palmeiras que se balançam ao o vento tropical, imagem de fôlder turístico. Desabitado e desolado, era lugar absolutamente sem importância, até que as forças japonesas ocuparam o lugar, em 1942, e o transformaram em ponto estratégico para o desenrolar das operações de guerra no Pacífico.

A maior ilhota do agrupamento, conhecida como ilha de Betia, foi fortificada pelos soldados nipônicos em poucas semanas: bunkers foram construídos, canhões e ninhos de metralhadoras foram estrategicamente distribuídos pelo local. Foi iniciada a construção de uma pista para pouso e decolagem de aviões de guerra.

Quando concluída, a pequena base, que ocuparia praticamente a ilha de 3,5 quilômetros de comprimento por 500 metros de largura, seria uma importante ponta de lança para os aviões japoneses e uma tremenda dor de cabeça a mais para os americanos. Os aviões decolando daquela base colocariam em risco o tráfego aéreo e marítimo entre os Estados Unidos e a Austrália, e todo o sudoeste asiático, envolvidos pela guerra.

Situado ao sul das Ilhas Gilbert, Betia entrou nos planos dos norte-americanos que objetivavam ocupá-la e fazer sua base para chegar ao Japão. Seria fundamental para a ponte aérea e marítima passando pelas Ilhas Marshall, Marianas, Iwo Jima, Okinawa atingindo finalmente a Terra do Sol Nascente.

O desembarque dos combatentes americanos deveria ser feito em uma primeira leva, por veículos anfíbios, que deixariam soldados e equipamentos na praia. Tais veículos, colocados na água a boa distância da praia, deveriam vencer pelo menos 11 quilômetros de água até chegar à terra firme.

Uma operação de alto risco, pois os veículos estariam sujeitos aos disparos das armas dos japoneses e poderiam inclusive ser alvos do fogo-amigo, isto é, dos disparos dos navios americanos em direção às defesas nipônicas.

A escolha do tipo de veículo anfíbio recaiu sobre uma máquina usada para realizar o transporte civil nos pântanos da Florida. Tratava-se do Alligator (Jacaré) uma barcaça de esteiras, que adaptada para o serviço militar, ficou conhecida como LTV-Landing Vehicle Tracked.

Depois de adaptado, o Jacaré podia levar 24 soldados ou duas toneladas de suprimento; armado com duas metralhadoras de 12,7 milímetros na frente e mais duas nas laterais, de 7,6 milímetros nas laterais. A blindagem era de placas de nove milímetros ao redor da cabine. A velocidade tanto dentro da água como em terra era de 19 km. por hora.

Uma versão melhorada do Alligator foi a do Buffallo (Búfalo), que tinha mais capacidade de carga — 2,7 toneladas — e podia desenvolver até 32 quilômetros por hora.

A invasão americana teve inicio ao amanhecer de 20 de novembro (1943). No desembarque da ilha de Betia foram usados 75 jacarés e 50 búfalos Os oficiais americanos contavam com uma ocupação rápida e uma vitória em poucas horas. A força invasora contava com o efetivo de 18.000 soldados, e os japoneses mantinham na ilhota apenas 4.836 soldados.

No primeiro dia as forças ianques estabeleceram duas cabeças de ponte nas praias. Jacarés e Búfalos foram usados com perícia, o que não impediu a perda de diversos veículos e mais de três centenas de mortos.

Nos três dias subsequentes, a ilhota foi totalmente ocupada. Em terra, os japoneses ofereceram resistência feroz mas ineficaz, ante a onda de Búfalos, Jacarés e soldados americanos. Encurralados na ponta oriental da ilhota, os nipônicos lutaram até à morte.

Preferiam morrer com sua honra intacta, tentando matar maior numero de soldados inimigos.

Ao entardecer do dia 23 — 4º. dia de batalha — Batia estava totalmente ocupada pelos americanos.

Mesmo com o uso dos Jacarés e dos Búfalos, os americanos amargaram a perda de 990 homens e 2.186 feridos. Do lado japonês, 4.690 soldados morreram e 146 foram feitos prisioneiros.

Os versáteis Alligator (LVT-1) e Búfalloes (LVT-2), em versões melhoradas, continuaram em serviço nos desembarques e combates nas praias das Ilhas Gilbert, Marshall, Marianas, Iwo Jima e Okinawa.

Só não chegaram às praias do Japão devido à finalização da guerra no Pacífico, com o lançamento de duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, que determinou a rendição dos japoneses e o final da guerra no Pacífico.

ANTONIO ROQUE GOBBO

São Sebastião do Paraíso, 22 de julho de 2013

Conto # 796 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 05/05/2015
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