785-FOME EM LUA DE MEL -Autobiográfico

De manhã, Levei Enny a passear em Niterói, para lhe mostrar uma das praias mais bonitas da baia de Guanabara, apesar do nome um tanto esquisito: a praia do Saco de São Francisco.

Fomos bem de manhãzinha, curtimos a praia e voltamos para pegar a barca do meio-dia, de volta ao centro do Rio, onde estávamos hospedados no Nelba Hotel, na Rua Senador Dantas, próximo à Cinelândia.

— Estou com fome, disse Enny, no ônibus que nos levava da praia ao local das barcas, em Niterói

— Eu também. Vamos comer qualquer coisa num bar aqui por perto. Mas estamos próximos do correio, vamos passar um telegrama “daqueles” pro Adalberto.

Entramos e redigimos o telegrama. Era uma brincadeira entre nós três, eu, Adalberto e Tião, todos casados recentemente com as as três irmãs, Edna, Enny e Neide. Em cada lugar que havia um correio, eu passava um telegrama para eles, dizendo coisas assim: “Gostoso” ”Que delícia” “É demais!”.

Quando meti a mão no bolso, procurando a carteira com dinheiro graúdo, notei que havia esquecido a carteira no hotel. Só tinha algumas moedas, que seriam suficientes apenas para as passagens das barcas.

Muito envergonhado falei com Enny do meu esquecimento.

— Não dá nem pra passar o telegrama, disse.

— Mas pelo menos para comer um salgadinho? — ela estava realmente com fome;

— Não, não dá. Só tenho dinheiro pra pagar os bilhetes das barcas.

Esperamos a próxima barca. Numa solidariedade inconsciente, eu também passei a sentir fome.

Comprei os bilhetes e fiquei praticamente sem dinheiro.

Embarcamos. O Trajeto, de apenas vinte minutos, foi uma agonia, pois a fome aumentava a cada milha que a barca avançava.

A barca encostou-se ao cais Cais Pahroux, na Praça Quinze. Descemos e fomos a pé ao nosso hotel. Longas dez quadras do cais até a Cinelândia. Um sol de rachar, uma fome do cão.

Como havíamos estado na praia, tivemos de tomar banho e trocar de roupa para o almoço.

Quando fomos atendidos, no Restaurante Spaghetelândia, ali pertinho, eram14 horas.

Nunca apreciei tanto um prato de espagueti como aquele.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 20 de maio de 2013.

Conto # 785 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 01/05/2015
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