Um conto em dez atos - Primeiro Ato

Não sei bem como começa a escrever isso, a única coisa que eu posso dizer é que às vezes a vida é engraçada de mais...

Vamos dizer que era um sábado qualquer, um dia quente e seco como todos os outros, reunião com a “turma” por assim dizer e musica boa para nossos ouvidos, musica em comum para todo os que ali estavam, era boa a diversão e o meu sorriso era forçado como todos os sorrisos que dei nos últimos anos, era mais fácil mentir e sorrir do que demonstrar tristeza e tentar explicar algo que ninguém entenderia. Ela estava lá nesse dia também, já havia visto ela outros dias atrás, mas não sei explicar como e nem o porquê eu não gostava dela nenhum pouco e ficava olhando como se tivesse algo errado, eu não sabia o que era ainda, mas algo me dizia que se eu observasse mais um pouco conseguiria ver o que nela me chamava mais atenção que os de mais... Ela sorria e conversava como se nada estivesse acontecendo, mas aquele sorriso era igual ao meu, por algum motivo eu sabia exatamente como aquele sorriso era falso, triste e desesperado, tudo iria mudar a partir daquele dia, seria o dia em que eu começaria a gostar dela!

Parecia ser mestre em deixar pra lá, mas com a primeira oportunidade, se distanciou, saindo como se ninguém percebesse, seria, triste e desanimada, algo tinha acontecido, não que eu precisasse saber, mas eu queria entender, como alguém pensa como eu penso. Na calçada de concreto, fria e suja de terra ela sentava e fixava aquele olhar triste no chão, eu observei como se não quisesse nada, mas um suspiro me chamou pra mais perto dela, o céu estava azul e cheio de nuvens negras, ela fechou aqueles, olhos grandes e brilhantes e uma lágrima escorreu pelo seu rosto, uma única lágrima que mais parecia uma onda gigantesca de sentimentos estranhos e confusos, aquilo me afetava de um jeito que nem mesmo Deus saberia me definir naquele momento.

-Tudo bem?

De tantas coisas que eu poderia dizer isso foi o máximo que saiu da minha boca, nada era pior que a minha própria dor do que as lágrimas desconhecidas de alguém estranho, ela virou disfarçou e tentou esconder a lágrima tímida e cheia de medo, eu deveria ter corrido dali, dado meia volta e dado as costa para todo aquele problema que não era meu, mas algo queria que eu ficasse algo, queria que eu soubesse o motivo de alguém sofrer igual a mim.

-Olha pra mim.

Essa frase saiu sem a minha permissão, ela demorou quase que um minuto inteiro para se virar e me encarar, era perfeita aquela tristeza, era quase como se me chamasse, lágrimas caiam devagar, ela sorrio, meu coração apertou, eu quero saber, eu queria entender, minha mão se mexeu sozinha direto no rosto dela, parece que aquilo me machucou, doía e eu nem sabia o motivo...

-Por que você esta chorando...?

Essa pergunta me pegou de surpresa, eu nem percebia que uma daquelas lágrimas também cairá dos meus olhos, eram pesadas, eram muito cansativas, parecia que o castanho do meus olhos chamava a traição do mundo para dentro do meu coração. Eu gritava desesperado por dentro, para, para! Ela me mudou e nunca vai saber disso. Eu não sei como agir ou o que dizer quando alguém chora para mim, por mim e nem muito menos sei agir quando alguém chora sem motivo, apenas ficamos ali parados olhando um para o outro sem saber o que queria dizer o que cada um sentia, mas eu sabia que de alguma forma eu comecei a gostar dela, a solidão era igual a minha se não pior, eu estava morrendo e um sopro de vida me foi dado...

Depois de sentir o gosto das minhas próprias lágrimas eu acordei, pois é, algo tão perfeito teria mesmo que ser um sonho, afinal, estou sozinho e por mais que eu queira alguém pra chorar comigo ou alguém por quem chorar isso ficará para sempre dentro apenas da minha mente, cada palavra, cada vontade. Eu nunca contarei a ninguém, nunca demonstrarei a ninguém, por que a solidão precisa ser apreciada sozinha e sozinho eu vou seguir, como sempre...

Duan Lêdson
Enviado por Duan Lêdson em 29/04/2015
Código do texto: T5224492
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.