Escrevendo

Era década de 90, eu ansioso pra escrever, pensava a todo instante: - porque não continuei a estudar? Porque interrompi os estudos, isto é dos treze aos vinte anos calculo eu. Tentei mentalmente justificar-me: deve ser por que quando estava com meus 7 anos cursava o 1.º ano ia de vento em popa, as notas excelentes, acima da média como minha primeira professora, Dona Maria do Carmo dizia:

--- Parabéns, Lourenço, todas provas só dez!

O carinho e os elogios daquela mestra inesquecível me atingiam magnificamente bem. Só que o ano passou, assim como passei para o segundo ano. Nossa! A mudança foi drástica, a professora mudou, e lá se foi o meu entusiasmo. No segundo ano repeti uma vez, duas, três vezes. Sentava na carteira completamente indiferente, o gosto pelos estudos caíram vertiginosamente, era como se a sala de aula, os colegas e a professora não existissem, minha mente não procurava assimilar as aulas, principalmente a matéria de aritmética que tanto precisava do raciocínio.

Resultado, a duras penas me passaram para o terceiro ano, fui indo e depois parei. Mas nesse período adorava ler de tudo, na época os gibis eram a leitura em quadrinhos que não dispensava, devorava as histórias dos heróis inesquecíveis, só que vinham sempre a advertência: proibidos para quem ainda não tinha treze anos!... cada vez que os lia, nas confissões obrigatórias falava os meus pecados de ler gibis, (é no catecismo não era moleza) quando lia as histórias exclusivamente para crianças, ficava em paz com minha consciência, se fosse aquelas histórias dos santos, a consciência parecia estar limpa de verdade. Quando lia aquelas revistas de histórias de amor, Capricho, Sétimo Céu, etc... sem nenhuma mínima chance das pornografias de agora, mas estava a enérgica advertência: -- para adultos!!! Aí, nossa! O pecado era estrondoso.

Os anos me atropelaram, quando me dei por mim já estava com meus vinte e poucos anos. Estava no meu emprego numa gráfica, fazia serviços gráficos, lidava com o jornal da cidade, estava me dando bem porque mexia com as letras, gostava delas. Surgiu a oportunidade de continuar a estudar o noturno, não perdi tempo, fiz o primeiro colegial, segundo, terceiro, depois para continuar e fazer o segundo grau tínhamos de escolher entre o científico ou a contabilidade, escolhi a contabilidade, apesar de que não a exerci porque continuei o meu trabalho na gráfica até me aposentar.

Trocando em miúdos sempre me vinha aquela vontade férrea em escrever, as histórias me fascinavam. O pontapé inicial foi a biografia de minha mãe, Dona Maria Vitória com noventa e poucos anos tinha sido catequista, tão arraigada na religião católica que muitos a consideravam até fanática, sua franqueza não permitia a mínima crítica sequer aos padres, às freiras ou outro religioso mesmo se fosse leigo. Alguns trechos de sua história já contei aqui neste site, considerava minha mãe uma líder extraordinária, mesmo quando me puxava as orelhas:

--- Lourenço, precisas decidir se continua na religião que nascestes ou seguir a religião de sua esposa, que é protestante, não fique em cima do muro, rapaz!

Eu revidava:

--- Mãe, mas é em cima do muro que enxergamos dos dois lados!

Já imaginaram né, a bronca que levei.

Ah! E voltando sobre a história de escrever me senti realizado (sem remuneração é claro) comecei a escrever em alguns sites, Supertextos, Recanto das Letras, Depressão e Poesia, Mural dos Escritores (infelizmente saiu fora do ar) e por aí à fora.