768-AVISOS PAROQUIAIS DO PADRE BERMA
O Padre Bermauganter (ou padre Berma, como é tratado carinhosamente por seus paroquianos) já foi protagonista de um fato pitoresco, registrado nesta série em “A Guerra dos Sinos”.
Alemão de Munique, está há mais de cinquenta anos no Brasil. E uma pessoa simples, de hábitos antigos (do tempo em que rezava a missa em latim e de costas para o povo) e não conseguiu ainda aprender nossa língua. Fala um português arrevesado e não toma cuidado na combinação de erres e esses, e muito menos da gramática, o que resulta, muitas vezes, em uma algaravia pitoresca e engraçada.
Pároco na pequena cidade de Santa Izabel, do púlpito da igreja tem uma palavra para tudo. Explica assim a criação do mundo:
— Minhas carrissimas irmons, quem criô o mundo fô Deus.
E sobre o dia da padroeira:
— Ontem fô dia santo, dia de Santa Isabel. Fô dia de alegria, fô dia de muita satisfaçon.
Anunciando a uma procissão da Semana Santa:
— O semana que vem terremos procisson, mas non serrá como nos anus passadus, que as mulheres se mistruava com us homens. A procisson será combosta de três filas: uma fila combosta de homens, ôtra combosta de mulherres e ôtra combosta de crianças. Todas os senhorras deverrom vir de véu. Quem não tiver véu, vem cu da mãe, cu da tia, cu da vó ou cu di quem quiser. As mulherres deverrom trazer velas. As casadas que já tem eksperiência, levam velas na frente: as solteiras que nunca levarram velas, levarron velas atrás e as velhinhas, coitadinhas, que já levarrom muitas velas na vida, non precisam levar mais velas. No fim do procisson, terremos uma grande churrasco no frente da Igreja, que serrá da seguinte maneirra: Esticamos um pau, colocarremos um parriu de chope em cada punta do pau. Do lado dirreita ficarram os homens, do lado esquerda ao mulherres. Quando eu contar até três Von todos pro punta do parriu.Qualquer O ôtra informaçon, estarrei a disposiçon no putarria da igreja.
Usava o púlpito para os avisos da igreja, como:
— Uma avisa parra os homens. Non deverrom amarrar cavalas no pau da igreja, aquele pau ali em frente não ser pau da igreja, aquele ser meu pau.
— Outrra avisa parra os vaqueirros: non deverrom entrar com esporras no igreja, porque esporra daqui, esporra dali, Von acabar esporrando todo na gente.
E quando pensou em cercar o cemitério, cujo muro muito antigo, de taipa, já mostravam muitos vãos e ensejava que animais pastassem sobre as covas:
— Terremos uma campanha parra cercar o cemitérrio, parra cavalos non entrrarrem. Se non, cavalo piça aqui, égua piça ali, quando vocês morrerrem piçam em vocês também.
E ajuntou outro aviso:
— E por falar em piçar, um aviso parra as moças e os moços: não picem no grama da igreja. Von piçar no grama de seus casas.
E finalmente, ao abençoar os fiéis, no final da missa:
—Deus abençoa todos, e von cu Deus.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 25 de janeiro de 2013
Conto # 768 da Série 1.OOO HISTÓRIAS