UM DIA APENAS
Tenho saudades até dos detalhes da minha infância.
Latãozinho de leite que era coletado depois do almoço na casa a Zora.
Quem fervia o leite in natura era a vovó, que morava depois da praça.
Zora era uma senhora que muito pouco enxergava e que sempre me recebia com um sorriso após o anuncio da minha chegada. – Oi Zoraaaa!
Enquanto ela conversava comigo, Catarina sua filha abastecia o Latãozinho de leite.
Saindo lá, era a vez do picolé no bar do Manoel, conhecido por Mané, um tio meu por consideração. Quando o picolé chegava ao fim, saía correndo para levar o leite até vovó.
Uma rotina de todos os dias.
Vovó quando não estava no tanque lavando roupa, estava no tanque lavando louças.
Na despedida sempre recebia a bênção através de sua voz e suas belas mãos. Sem contar o beijo acalorado de quem sabia as coisas da vida.
Depois, brincar, brincar. Brincar com os amigos, correr descalços e sem camisa pela praça e pelos campos.
Vovó não podia saber, pois tinha medo de nos machucarmos e medo de afogarmos no riacho onde ladeávamos nus para não sujar as roupas.
As brincadeiras aconteciam no paiol em meio ao milho estocado, nos balanços e trapézios, brincávamos no paiol cheio de sacas de milho, fazíamos trapézios de corda e bambu e uma casa na árvore para descansarmos.
Quando vinha a fome, coitado do pomar e do canivete velho do senhor Irdeu ordenhador de vacas.
Ao longe víamos vovô sentado na porta com um amigo da mesma idade, jogando conversa fora. Já era hora de tomar banho.
Por volta das seis da tarde jantar.
Depois do jantar era hora de voltar à praça pra brincar de pega-pega no coreto.
Mais tarde, copão de leite com café, pão na manteiga por vovó preparados e novela das oito.
Vovó sempre sentada ao meu lado fazendo crochê ou tricô e depois da novela, um pouquinho de Hebe e uma cama aconchegante para descansar.
Infância assim, só assim!
É isso aí!
(Fonte: Jorge Godoy)
Acácio Nunes