Um passeio em Padova
Dei um beijo em Fillippo e subi no trem. Destino Padova. Quis agradecer a Santo Antonio pelo amor e pela vida.
Uma hora mais tarde cheguei lá... Presenciar de perto os bons eflúvios da grande Catedral do Apóstolo da Paz e da Bondade era fundamental. A imponente Basílica de esplêndida arquitetura, em estilo gótico, do séc.XIII, tem 115 metros de comprimento em cruz latina e nove capelas espetaculares. Seu interior adornado de afrescos, pinturas, esculturas e alto-relevos da maior qualidade surpreende os visitantes. Meu coração era só emoção!
Foquei meu olhar nas inúmeras Madonas e mi detive por uns instantes mergulhada em preces em frente ao altar de Nossa Senhora do Pilar. Noutra capela, encheu-me de ternura a Nossa Senhora Morena com seu bambino, uma majestosa estátua do mestre francês Reinaldo de Puydarrieux. Depois, apreciei calmamente a Capela das relíquias cheia de tesouros e parei na Capela faiscante do SS.Sacramento, magnífica!
Nossos sentidos, às vezes, não se dão conta que a música que ouvimos nas celebrações religiosas foi composta por ilustres maestros, há décadas. Nessa Basílica de S.Antonio a música sacra vibrante de Giovanni P. Palestrina (séc.XV), com sua apurada perfeição musical preenchia todos os espaços, literalmente. Quão grandes foram os autores das obras musicais que até hoje suavizam nossos dias!
Na capela da Mãe de Jesus, uma estátua da Virgem Maria exprime imensa doçura num belo altar circundado de incontáveis pinturas e afrescos (são cerca de 70 imagens da N. Senhora com o Menino Deus). Tamanha grandiosidade nos deixa extasiados, com a sinfonia ecoando por entre as capelas adornadas, as pinturas nos tetos, nas paredes e nos altares. “O magnum mysterium” de Palestrina soando por toda a Basílica me tocou profundamente. Parei com o coração enlevado diante da pintura de Tiziano, onde Santo Antonio em meio ao povo toma um bebezinho em suas mãos (o milagre de fazê-lo falar).
Duas horas depois, ao caminhar pelas redondezas alcancei a belíssima praça Prato Della Valle. Senti o frescor da primavera sentada sob o sol delicioso a me aquecer. Há tempos a arte me fascina... as grandes estátuas e essa praça oval cercada de belas figuras se destaca por sua simetria. Um veio d’água a circunda, e outra série de estátuas a protege, corretamente perfiladas em seu traçado oval. Na época romana foi a praça do Teatro, tornou-se um mercado tradicional já em 1077, e mais tarde, aquele paradisíaco chão passou a ser local de assembléia dos homens livres.
Que felicidade estar num lugar tão lindo! A felicidade é, sim, um minuto de distração quando somos presenteados com o inesperado frescor da vida. Sem expectativas, totalmente entregue à simplicidade do dia o fluir do tempo. Isso é a essência da felicidade. Dei uns passos no entorno sem tirar os olhos da praça com seu brilho fosforescente, e ouvi umas vozes...
- Não, senhor!... as de Firenze são um espetáculo! – dizia um senhor idoso.
- Que nada!... as de Roma são imbatíveis! – respondeu outro numa roda de amigos – A Fontana di Trevi e a Piazza Navonna tem as estátuas mais lindas do mundo.
- Ecco... eu elejo as obras grandiosas de Antonio Canova, a Vênus itálica, assim... refinada, e aquela do beijo: Psiquê revivida pelo beijo de Eros! - disse outro.
- Ma que... – argumentou um padovano – Esta praça é única no mundo... enfeita minha cidade... oitenta e sete estátuas brancas que contam nossa história... e ponto final! Estavam julgando aquelas obras que eu acabara de admirar. Lancei novos olhares a elas. Oras, estavam ali, encantadoras e silenciosas, ao escrutínio dos visitantes.
- O que importa mesmo é que são tão importantes e majestosas quanto todas as outras da Itália! – concluiu.
Dei passos na direção oposta, e logo avistei a Basílica de Santa Giustina, antiquíssima construção. Estava fechada, que pena!
No centro da cidade perdi-me por vielas estreitas que são características das cidades italianas, de seus centros antigos. Idosos de óculos, mulheres elegantes, jovens tagarelas, peregrinos resignados, senhores bem vestidos, tudo faz a vida acontecer.
Peguei um ônibus pra fazer um tour. Pretendia ir até o Duomo no centro da cidade, visitar aquela catedral medieval construída em 866 d. C., e depois, incendiada pelos húngaros em 899. Eram bárbaros, mesmo! Os cristãos a reconstruíram no séc. XII, cujo batistério encanta por seu esplendor e que possui afrescos de uma beleza ímpar em toda a cúpula. Mas, o ônibus deu voltas e voltas. Estranhei um pouco.
Uma igreja simplória surgiu na paisagem e desci. Fui entrando pela arcada lateral e vi surgir estátuas... muitos anjos de pedra... interessante!... Porém, era o cemitério!... Réplicas das estátuas de Gian Lorenzo Bernini adornavam a última morada de gente importante. Noutras lápides viam-se cópias da Pietà de Michelangelo e outras mais. Arrepios e saudades me fizeram lembrar do meu pai. Saí dali e entrei na igreja por uns instantes.
Anoiteceu e voltei pra casa sem ver o Duomo. Não faz mal... Como são magníficas as obras de Deus!
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IZABELLA PAVESI
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Imagem: internet
Dei um beijo em Fillippo e subi no trem. Destino Padova. Quis agradecer a Santo Antonio pelo amor e pela vida.
Uma hora mais tarde cheguei lá... Presenciar de perto os bons eflúvios da grande Catedral do Apóstolo da Paz e da Bondade era fundamental. A imponente Basílica de esplêndida arquitetura, em estilo gótico, do séc.XIII, tem 115 metros de comprimento em cruz latina e nove capelas espetaculares. Seu interior adornado de afrescos, pinturas, esculturas e alto-relevos da maior qualidade surpreende os visitantes. Meu coração era só emoção!
Foquei meu olhar nas inúmeras Madonas e mi detive por uns instantes mergulhada em preces em frente ao altar de Nossa Senhora do Pilar. Noutra capela, encheu-me de ternura a Nossa Senhora Morena com seu bambino, uma majestosa estátua do mestre francês Reinaldo de Puydarrieux. Depois, apreciei calmamente a Capela das relíquias cheia de tesouros e parei na Capela faiscante do SS.Sacramento, magnífica!
Nossos sentidos, às vezes, não se dão conta que a música que ouvimos nas celebrações religiosas foi composta por ilustres maestros, há décadas. Nessa Basílica de S.Antonio a música sacra vibrante de Giovanni P. Palestrina (séc.XV), com sua apurada perfeição musical preenchia todos os espaços, literalmente. Quão grandes foram os autores das obras musicais que até hoje suavizam nossos dias!
Na capela da Mãe de Jesus, uma estátua da Virgem Maria exprime imensa doçura num belo altar circundado de incontáveis pinturas e afrescos (são cerca de 70 imagens da N. Senhora com o Menino Deus). Tamanha grandiosidade nos deixa extasiados, com a sinfonia ecoando por entre as capelas adornadas, as pinturas nos tetos, nas paredes e nos altares. “O magnum mysterium” de Palestrina soando por toda a Basílica me tocou profundamente. Parei com o coração enlevado diante da pintura de Tiziano, onde Santo Antonio em meio ao povo toma um bebezinho em suas mãos (o milagre de fazê-lo falar).
Duas horas depois, ao caminhar pelas redondezas alcancei a belíssima praça Prato Della Valle. Senti o frescor da primavera sentada sob o sol delicioso a me aquecer. Há tempos a arte me fascina... as grandes estátuas e essa praça oval cercada de belas figuras se destaca por sua simetria. Um veio d’água a circunda, e outra série de estátuas a protege, corretamente perfiladas em seu traçado oval. Na época romana foi a praça do Teatro, tornou-se um mercado tradicional já em 1077, e mais tarde, aquele paradisíaco chão passou a ser local de assembléia dos homens livres.
Que felicidade estar num lugar tão lindo! A felicidade é, sim, um minuto de distração quando somos presenteados com o inesperado frescor da vida. Sem expectativas, totalmente entregue à simplicidade do dia o fluir do tempo. Isso é a essência da felicidade. Dei uns passos no entorno sem tirar os olhos da praça com seu brilho fosforescente, e ouvi umas vozes...
- Não, senhor!... as de Firenze são um espetáculo! – dizia um senhor idoso.
- Que nada!... as de Roma são imbatíveis! – respondeu outro numa roda de amigos – A Fontana di Trevi e a Piazza Navonna tem as estátuas mais lindas do mundo.
- Ecco... eu elejo as obras grandiosas de Antonio Canova, a Vênus itálica, assim... refinada, e aquela do beijo: Psiquê revivida pelo beijo de Eros! - disse outro.
- Ma que... – argumentou um padovano – Esta praça é única no mundo... enfeita minha cidade... oitenta e sete estátuas brancas que contam nossa história... e ponto final! Estavam julgando aquelas obras que eu acabara de admirar. Lancei novos olhares a elas. Oras, estavam ali, encantadoras e silenciosas, ao escrutínio dos visitantes.
- O que importa mesmo é que são tão importantes e majestosas quanto todas as outras da Itália! – concluiu.
Dei passos na direção oposta, e logo avistei a Basílica de Santa Giustina, antiquíssima construção. Estava fechada, que pena!
No centro da cidade perdi-me por vielas estreitas que são características das cidades italianas, de seus centros antigos. Idosos de óculos, mulheres elegantes, jovens tagarelas, peregrinos resignados, senhores bem vestidos, tudo faz a vida acontecer.
Peguei um ônibus pra fazer um tour. Pretendia ir até o Duomo no centro da cidade, visitar aquela catedral medieval construída em 866 d. C., e depois, incendiada pelos húngaros em 899. Eram bárbaros, mesmo! Os cristãos a reconstruíram no séc. XII, cujo batistério encanta por seu esplendor e que possui afrescos de uma beleza ímpar em toda a cúpula. Mas, o ônibus deu voltas e voltas. Estranhei um pouco.
Uma igreja simplória surgiu na paisagem e desci. Fui entrando pela arcada lateral e vi surgir estátuas... muitos anjos de pedra... interessante!... Porém, era o cemitério!... Réplicas das estátuas de Gian Lorenzo Bernini adornavam a última morada de gente importante. Noutras lápides viam-se cópias da Pietà de Michelangelo e outras mais. Arrepios e saudades me fizeram lembrar do meu pai. Saí dali e entrei na igreja por uns instantes.
Anoiteceu e voltei pra casa sem ver o Duomo. Não faz mal... Como são magníficas as obras de Deus!
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IZABELLA PAVESI
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Imagem: internet