762-A HISTÓRIA DE JAQUES - Bom Humor

Chamava-se Eugênio Amarante. Desde a infância atendia pelo apelido Genico, e mais tarde, entre os amigos de bar e de jogo, era o Nico.

Nasceu, viveu e cresceu na pequena cidade de Dois Coqueiros. Trabalhou até os sessenta e poucos anos e aposentou-se.

Pensava que ao aposentar-se, terá tempo integral para dedicar aos amigos de copo e cartas.

Ledo Engano.

A mulher Carmela o assediava o tempo todo, pedindo-lhe para fazer isso e aquilo, comprar coisas para a cozinha e miudezas para a costura.

Sempre com muita educação, pedia ao marido:

— Já que você está com tempo, leva o Sultãozinho para caminhar. E já que vai levar o Sultãozinho, não se esqueça de levar o saquinho.

E quando ele voltava do passeio com o cãozito, ela já tinha outro pedido:

— Já que você tá disponível, por favor, (ela era sempre educadíssima) dê uma desempoleirada nos móveis da sala.

Mais tarde:

— Já que você já almoçou, por favor, lave os pratos e talheres.

No dia seguinte continuavam os pedidos, sempre educadamente precedidos por o “já que”, que era a maneira dela iniciar qualquer solicitação ao marido.

E por ai ia. Nico, sem querer ser submisso e pretendendo ser cordial, foi se acostumando aos inúmeros “já que” da patroa. Achava que estava cumprindo com sua parte na manutenção da casa em ordem, limpa, e suprida do que necessário fosse.

Como é natural, não só a atitude serviçal como a maneira de Carmela iniciar os pedidos (“já que...”) tornaram-se do conhecimento dos familiares e depois, dos amigos.

Nico passou a ser chamado de Jaque e depois de Jaques no bar e na roda de jogo.

— Jaques, vamos começa o jogo. Você Não vem?

Ou

— Vamos, Jaques, toma logo a cerveja, vê se não enrola.

Ou ainda

— Tio Jaques (era o sobrinho), me ajuda aqui...

Tudo ia bem, até que uma manhã um gaiato no bar o chamou de Nico Jaques. Não foi o fato de chamá-lo pelos dois apelidos acoplados, mas o modo como os pronunciou:

— Então, Nicú-jaques, tudo bem?

Nico, de que sempre fora homem de bom gênio (até no nome), naquele momento levantou-se de chofre do banquinho em que estava sentado à beira do balcão, retrucou em voz alta, para que todos ouvissem:

— Nicú-Jaques é a vó!

Daquele dia em diante, nem Jaques nem Nico. Voltou a ser como no batismo: Eugênio Amarante, sim senhor!

ANTONIO ROQUE GOBBO

CONTO # 762 DA SÉRIE MILISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 18/04/2015
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