O outro Jordão
No preto e branco da fotocópia de escassa definição - ou de meus cristalinos já em jaça - corro os olhos neste instantâneo, tomado ao lado da igreja matriz do povoado da Abadia - hoje Martinho Campos - há uns setenta e muitos anos.
Lá está apinhada toda a meninada que estivesse ao alcance naquele dia, de um brado retumbante do Vigário Padre Marciano, a uma suave ave-maria de Gounod, que o alto-falante nem tocou.
E todos aparentemente colhidos de surpresa, sem a sua fatiota domingueira, uns sapatinhos nos pezinhos, ou ao menos uma escovada nos cabelinhos. O dia e a hora eram de trabalho, o trabalho da criançada de trazer água para ajudar na ereção da igreja. Já dizia o Senhor: a messe é grande e os operários é que sãopoucos. Vinde a mim os pequeninos. E de preferência, com suas latas para as encher no córrego do Bambé, e matar minha sede, que é de fé.
Na descoberta inédita daquele quase daguerreotipado rebanho de ovelhinhas tão tenras é que o mano Beu decreta: essaí é a mamãe. E a própria indigitada, lá retratada, e com a mesma carinha entre o susto e o desafio, hesita.
Hesita, mas não evita: é a própria, até pela nossa vontade - à sombra da divina parede eclesial - de confirmar o achado. Achado e assinado pelo 'Studio Jaafar'.
Olho padre Marciano chamando a cambada pra rezar. Ou mais água buscar?