CHEGOU A MODERNIDADE

Me contaram, mas decidi ignorar. O dia em que todos poderiam fazer exatamente tudo sem sair do próprio quarto. Pedir comida, pegar um cineminha, pagar as contas, quitar o imposto de renda, trabalhar, conversar com os amigos e até mesmo namorar. Seria um luxo e também teria acreditado, realmente, se esta pessoa não estivesse bebendo comigo. Confesso que fiquei curioso em primeiro momento imaginando como seria nossas vidas dali por diante e me flagrei fazendo a pergunta se isso seria possível. Bobagem! Diga tais besteiras para suas negas. Tudo seria resolvido a distância de um dedo. Como?

- Pelo celular, besta!

Fui obrigado a confirmar sua advertência. Não fiquei convencido, tampouco satisfeito. Preferi ver a minha Vejinha e usar o velho telefone quando requisitado. Segui caminho com os amigos, bebendo no boteco do japonês onde Whisky é novidade. A maioria solicita o copo pequeno e tentam vira-lo, estilo cowboy. Mas agora conversam ao mesmo tempo que enviam mensagem de texto por debaixo da mesa, como se fosse falta de educação escancarar para todos, assim quando se palita os dentes após a refeição.

O que salvou a noite foi a presença feminina. Ai ninguém quer saber de tecnologia. Conversei com a ruivinha e peguei seu telefone quando me agarrou para dizer:

- Posso cantar no seu ouvido?

Imaginei de imediato uma noite proveitosa. Só não entendi quando ela se despediu dizendo que precisava ir embora. Fiquei ainda mais confuso quando recebi uma ligação dela explicando o mal entendido e que agora ela poderia cantar no meu ouvido. Realmente, ela cumpriu o que prometeu. Cantou no meu ouvido através do celular.

Essa modernidade...

Se não tivessem me avisado sobre o advento tecnológico que facilitaria as coisas, não teria acreditado.

Obrigado por ler meu trabalho.

L S Amaro
Enviado por L S Amaro em 09/04/2015
Reeditado em 31/08/2015
Código do texto: T5200719
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