a casa da rua sem nome

Desejou a casa simples da rua sem nome (não havia placa na esquina de origem). Amou a casa daquele jeito: um salgueiro na calçada, ameixeira, arruda e alecrim num gramado três por dois onde um sapo pétreo e flamenguista sorria congelado. O que dizer das venezianas marrons com cortinas brancas e a murada baixa aonde uma roseira crescia próximo das hortências e uma laranjeira aonde o sanhaço ouvia atento o canto de um sabiá? Enquanto não havia dinheiro para comprar a pequena casa da rua sem nome, aonde as sombras das árvores encurvavam a linearidade do tempo entre penumbras e folhas glaucas, iria namorando ela assim, dia após dia.

Manhã seguinte perdeu o medo e a vergonha. queria o telefone da placa aonde anotado estava: Vende-se. Tudo o que encontrou foi um enorme prédio causando eclipse em toda a vila. Triste, ainda voltou outros dias e pôde confirmar o nascimento de salas comerciais, uma oficina e um banco aonde houveram vários assaltos.

daniel mafra
Enviado por daniel mafra em 06/04/2015
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