741-A BOMBA REPELENTE - História de Pedro Gobbo
A notícia não é recente, data de 2001: o Pentágono — o mega-ministério da guerra dos Estados Unidos — estava investindo milhares de dólares e usando recursos científicos para criar uma bomba que exale cheiro ruim.
A ideia: fabricar uma granada ou bomba que, ao explodir, exale um cheiro tão asqueroso, insuportável mesmo. Tão ruim que ninguém aguenta. O jeito é fugir e fugir correndo. Tropas militares e multidões civis são assim, sem desperdício de vidas, malbaratadas e eliminando as ameaças que possam representar.
O odor que primeiro veio à cabeça dos homens dos laboratórios foi o do gambá. De uma bomba com cheiro de gambá o inimigo não teria sequer como se defender. Não sei se a tal arma foi fabricada. Na Internet nada encontrei, e, pela falta de registros, é de se supor que seja hoje uma tremenda arma secreta. Código BCFG. Bomba com Fedor de Gambá.
Esta notícia me remete à luta de meu pai, Pedro, contra os gambás.
O galinheiro de nossa casa foi assaltado por um gambá. No ambiente urbano os bichos não domesticáveis não tinham muito onde se esconder e muito menos onde procriar.
Depois da segunda galinha morta pelo pequeno predador, meu pai tomou a peito achar o covil. Foi seguindo a pista pelo cheiro. O gambá só exala aquele fedor insuportável quando atacado, mas em seu assalto ao galinheiro, deixou um cheirinho, que o caçador improvisado foi seguindo, seguindo, até descobrir o esconderijo do assaltante: a pista indicava que o local era no alto da casa, em alguma parte do telhado.
Casa antiga, com platibanda, o pé direito de quase dez metros, alicerces altos e cujo telhado se erguia a mais de dez metros.
— Cuidado, Pedrinho, não vá cair da escada. — Admoestou minha mãe.
Ele era um homem que não deixava intimidar por nada. Encostou uma alta escada de madeira na lateral do edifício e armado de um chuço de madeira, levando na mão esquerda um saco velho de tecido grosso, subiu até o telhado.
Seguindo a “pista”, dirigiu-se para onde o telhado terminava, fazendo junção com a platibanda, um canto de difícil acesso. Um lugar quase inacessível.
Ali encontrou o esconderijo. Era uma manhã de sol claro, forte. Conta papai que, ao levantar telha que protegia no ninho, o gambá ficou ofuscado pela claridade (pois é um animal de hábitos noturnos), o tempo bastante para que o saco fosse jogado sobre seu corpo. Quando exalou o cheiro horrível, já estava ensacado.
— Era uma fêmea com a ninhada de seis gambazinhos. Fui matando um a um, e enfiando no saco, com a mãe. — Ele gostava de narrar os detalhes do feito. — Desci depressa pela escada, mantendo o saco bem fechado. O cheiro já era quase insuportável. Corri para o fundo do quintal, onde uma cova já estava aberta. Dei uma pancada no saco, para matar o gambá e joguei o saco dentro da cova, tudo ao mesmo tempo. Rapidamente, enterrei o saco.
Mais tarde, narrando a caçada ao cunhado sitiante, este lhe explicou:
— Não é preciso caçar o bicho na toca, não. Basta deixar uma vasilha com cachaça onde o gambá passa.
— Cachaça?
— Sim. O bicho gosta de cachaça, bebe até cair de tonto. Então, fica fácil acabar com ele. É o que faço no meu sítio.
Desconfio que aquela caçada por cima do telhado tenha sido feita pela metade. Provavelmente algumas crias da gambá escaparam, pois no ano seguinte, novamente apareceu outro gambá dizimando o galinheiro. E de novo, o esconderijo parecia ser de novo no alto do telhado.
Foi tal como se diz – “Tiro e queda” – Papai colocou um pouco de cachaça uma vasilha rasa, e deixou no caminho do bicho, entre o galinheiro e o esconderijo.
Namamnhã seguinte, levantou ainda bem cedo, e encontrou o bicho dormindo. Havia bebido todo o a pinga da vasilha. Foi fácil exterminá-lo.
Cidade pequena é pior do que rede social da Internet para divulgar novidades, boatos e fofocas.
Foi depois da segunda vez que papai matou gambás que Alcebíades, um amigo da família, morador no outro extremo da cidade, apareceu lá em casa para pedir-lhe:
— Pedro, tem um gambá matando galinhas no galinheiro de minha casa. Quem sabe você poderia ir lá e...?
Papai ficou chocado com o pedido. Rispidamente, respondeu:
— Olha, Alcebíades, eu sou marceneiro, ouviu? Marceneiro. Não sou matador de gambás.
Os dois nunca mais se falaram.
ANTONIO GOBBO
Belo Horizonte, 08 de agosto de 2012
Conto # 741 da Série 1.OOO HISTÓRIAS
Este conto está em "Amor Sem Limites"
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