o imperdoável
O fato de ser assassino, um matador de aluguel não gravitava incomodo no cerne abissal e negro de seu íntimo. Sabia, nesse oceano de sombras, existir lá pecados mais bem mais peludos, frios e pegajosos. Precisava se confessar e extravasar, abrir os portões do inferno. Teve a idéia então de se confessar com um padre numa cidade distante.
O desagradável é que após isso sabia que teria de matar o sacerdote após a confissão, pois ninguém além dele poderia saber o que ele sabia. Matar a encomenda não lhe era problema, era o seu trabalho e, modéstia a parte, era um mestre nessa arte. Entretanto, matar a quem lhe estendia a mão lá isso já era um estorvo a sua ética, pois nessa equação já sairia da igreja endividado novamente.
Mesmo sem saber como resolver o problema foi a igreja. Fumou cigarros acesos uma ponta após a outra do lado de fora tempo o suficiente para que as beatas fossem embora. Aproximou-se do confessionário aonde oculto o padre, com voz rouca e generosa pediu que falasse.
Falou por 10 minutos sem interrupção e estranhou que o padre nada comentasse. Escondido entre a calça, a camisa e o corpo, o gatilho do revólver já lhe coçava o indicador, pesava-lhe a situação mas era preciso fazer aquilo
Antes mesmo que tomasse a iniciativa, o padre sem qualquer sermão ou posologia de oração, gritou desesperado e caiu abrindo a porta do confessionário: morreu enfartado, não se sabe até hoje se por obra do colesterol ou por todas as coisas sombrias que ouviu naquela tarde.
Melhor partir, mas antes de sair agradeceu a Deus e ao anjo que carregasse o velho padre embora por facilitar as coisas e diminuir a sua parcela de culpa, afinal, morte em acidente de trabalho não era problema seu. Atravessou a nave da igreja, fechou a porta e sumiu no mundo