732-CONEXÃO PERDIDA - Registro de Viagem

Aeroporto de Miami – 15.5.2012

Havia feito de tudo para evitar contratempos de viagem. A reserva dos bilhetes, pela American Airlines, foi feita com antecedência de três meses, recomendável porque estaria usando a milhagem adquirida em viagens anteriores, como pagamento das passagens.

Uma viagem simples, sem complicações: minha esposa e eu tomaríamos o avião no Aeroporto de Confins, Belo Horizonte, faríamos escala em Miami, onde deveríamos embarcar para Saint Louis, num voo de duas horas e quarenta minutos.

No tempo decorrido entre a reserva e a o início da viagem esse voo de Miami a St. Louis foi extinto pela AA, que me comunicou em e-mail cheio de outras informações (saldo de milhagem, requisitos alfandegários, peso e quantidade de bagagem, etc.), de forma que não atinei para a mudança do trecho Miami-St. Louis, substituído por voo Miami-Chicago-St. Louis. Diga-se de passagem: tenho viajado de avião e jamais consegui entender as escalas das companhias aéreas.

O primeiro percalço foi o meu esquecimento do passaporte brasileiro, situação que já descrevi em outro conto. (1)

O segundo aconteceu em Miami. O voo para St. Louis (que pensávamos tomar) estava marcado para 15h10min, ou, como preferem os americanos, 3:10 PM. Após o desembaraço da alfândega e o redespacho das malas, tomamos um café (eram cerca de 8 horas da manhã) e fomos procurar o portão do voo das 15:10. Não vimos nenhum voo para St. Louis naquele horário, nos painéis de partidas.

—Ainda é muito cedo. – Eu disse para Enny – Ainda não aparece no painel, mas logo o veremos.

Enquanto aguardamos com paciência, lanchamos e lemos.

Em determinado momento, por volta das treze horas, ouvimos um chamado que despertou a atenção de Enny.

— Engraçado, parece que falaram Gobbo.

— Ah, deve ser algum chinês ou japonês. — Respondi, pretendendo tranquilizá-la.

De qualquer forma, pelas quatorze horas, faltando portanto uma hora para o embarque marcado em nossa passagem, e não aparecendo nos painéis de partidas nenhum voo para St. Louis, fomos ao balcão da American Airlines saber qual seria o portão ao qual deveríamos nos dirigir.

Para grande surpresa nossa, o funcionário nos informou que aquele voo havia sido extinto, não havia mais, e que deveríamos ter tomado o avião que iria a Chicago e em seguida a St. Louis. O voo das treze horas.

Olhei para Enny, consternado.

—Aquela chamada... era para nós... E agora?

O funcionário que nos atendeu percebeu a nossa dificuldade. Imediatamente informou-nos que iria nos colocar num outro voo, que partiria dentro de meia hora, direto para St. Louis. Só não sabia se iríamos sentados em poltronas juntas. Fez um contato telefônico e, com muita cortesia, mas com assertividade, nos colocou num carrinho elétrico, que ele mesmo dirigiu até o portão onde deveríamos embarcar.

Quando lá chegamos, falou alguma coisa com a jovem atendente, explicando-lhe o caso. Ela aquiesceu e nos dirigiu um sorriso que nos transmitiu tranquilidade. Marcou nossas poltronas: M21 e M22, uma ao lado da outra.

O funcionário que havia nos trazido disse-nos, com clareza, energia e cordialidade:

— This is your gate. Please stay here! Don’t miss this flight; it’s the last to St.Louis.

Enny, mais fluente em inglês, traduziu para mim:

— Ele está mandando a gente ficar aqui, não arredar o pé. Este é o último voo de hoje para Saint Louis. Não podemos perdê-lo.

Para falar a verdade, gostei do modo como o funcionário nos “enquadrou”.

Embarcamos e chegamos a St. Louis na mesma hora que chegavam nossas malas, transportadas no voo com escala em Chicago. O avião que deveríamos ter tomado.

E assim, cansado mas enfim, aliviado, lembrei-me da sabedoria indiana, que cito aquí:

No fim tudo dá certo – Se não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim.

(1) Ver conto Falta de Burocracia (#729)

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 28 de junho de 2012

Conto # 731 da Série 1.OOO HISTÓRIAS .

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 30/03/2015
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