Os olhos do medo
Era noite de sexta feira,estava eu indo para casa após uma cansativa tarde de estudos. Mal via a hora de chegar e dormir. Havia brigado com os amigos e o namorado nem ligou para dar noticias, foi um péssimo dia. A medida que me aproximava de casa uma grande nebulosidade crescia gradativamente. Não moro muito perto das montanhas o que me parecia estranho tamanha neblina em meu bairro. Assim que entrei em minha rua senti que meu pneu havia batido em algo, achei que tinha atropelado um cachorro, logo que a vizinha tinha muitos cachorros e um ou outro viviam escapando. Parei o carro imediatamente, e logo vi uma cena que me chocou, haviam corpos jogados na rua, não sei ao certo quantos mas eram muitos. Quando reconheci a minha vizinha, a mesma dos cachorros, eu instintivamente corri e em prantos me direcionei a minha casa. Não consegui ver nada, somente entrei em meu quarto, fechei a porta e me pus a chorar. Quando abri os olhos, uma face me observava no espelho. Não uma desconhecida, era eu porém toda ensanguentada e com uma faca na mão. Quando a imagem começou a se mexer independente do que eu fazia fiquei com tanto medo que não consegui me mexer. Ela disse: levanta que daqui a pouco a policia vai chegar e encontrar os corpos que você matou. Entrei em desespero total e desmaiei.
Quando voltei a mim, estava em uma cova aberta, e ao meu lado os corpos de meus vizinhos e parentes. Meu estomago embrulhou tão rapidamente quanto minhas mãos me lançando pra fora da cova. A cova foi feita em uma floresta densa e fechada. De modo que me levou a pensar que a cidade mais próxima deveria estar a quilômetros. Comecei a caminhar com muita dificuldade pela floresta, e sentindo uma forte dor de cabeça. Mesmo me controlando pouco cheguei a uma campina aberta algum tempo depois. Creio que andei por horas pois já estava anoitecendo quando cheguei. A campina era ampla e tinha muita neve, me assustei com isso porque eu morava em um país entre os trópicos o que geralmente só tinha duas estações em minha cidade: verão e amostra grátis do inferno. Nunca havia visto neve em minha vida, a não ser naqueles filmes românticos em que a mocinha sempre acaba com o mocinho no final. Mas eu, não parecia ter um mocinho pra me salvar ali. continuei andando e logo avistei uma cabana, era uma de madeira rudimentar que nunca tinha visto em minha cidade. Geralmente eu correria para longe dela, mas nas condições que eu estava não tinha muitas escolhas e logo me lancei para dentro e adormeci.
Logo de manhã acordei com dois olhos me observando e com um rifle daqueles bem antigos da época de meu avô mirado para mim. Com um solavanco me lancei pra parede de trás tentando me encolher ao máximo para não ser morta. Fechei os olhos para não ver aquele que poderia ser meu assassino, mas ao invés de atirar ele perguntou porque eu invadira sua casa. Eu não consegui dizer nada e comecei a chorar. Na verdade eu já estava tão acostumada a chorar naqueles tempos que as lagrimas já vinhas automaticamente aos olhos. Ele me jogou uma colcha grossa, que parecia uma pele de um animal e me deu algo para comer. Nem olhei o que era, mas estava com tanta fome e devorei em alguns segundos. Só depois de ter devorado pensei e se estivesse envenenado, mas como eu já havia comido basta eu rezar para que não. Algumas horas depois ouvi passos perto da porta, mas o homem que não ousei perguntar o nome já estava na casa fazendo algo na cozinha. Corri até ele e o puxei até a porta. Ele olhou para mim sem entender e então finalmente eu disse a minha primeira palavra naquela casa. Passos lá fora, cuidado, estou... e voltei a chorar como uma criança que achava que tinha um monstro no armário. Ele pegou o rifle e foi até um comodo pequeno que parecia ser um deposito. Voltou de lá e constatou que tinha alguém circulando a casa. Quando notei que a unica janela que tinha era na cozinha imediatamente corri para fechar. Foi quando vi o rosto, era eu, mas não eu a imagem do espelho. Ela estava tentando entrar na casa. Eu fechei a janela e corri para perto do homem e disse pra ele que era eu ou uma gêmea minha, não sabia ao certo explicar. então a porta mexeu e eu ouvi um tiro. foi quando cai e desmaiei.
Quando acordei estava em minha cama, no meu quarto com a vizinha batendo a porta e os bombeiros gritando e tentando arrombar a casa. Aparentemente eu havia deixado algo no fogo e ido dormir em seguida. Quando desci as escadas do meu quarto, o bombeiro tinha a mesma feição daquele homem. Foi quando notei que tudo que tinha visto foi um pesadelo... Ou não.