Consciência Negra
Consciência Negra
Benfazejos são os dias em que o trabalho incessante de um grupo é feito com aprazer e bom quisto.
É uma pena quando todo este trabalho se é jogado no ralo com uma péssima organização.
Quais foram os verdadeiros idealizadores de até então? E a qual motivo foi entregue à uma direção atrapalhada para tamanha ocasião?
Perdeu-se pois todo o pensamento e bem valia desta data na hora do juntar das salas. Onde se podia imaginar encontrar todo o colégio no mesmo espaço? Apenas esses pensadores de fraco analisar poderiam ter inventado.
As perguntas aqui não se param em fatos ou ocasiões, mas sim em subordinados. Ver todos juntos parecia sobrevir o inicio de um cataclisma! E o se deu!
Sem contar o logro de chamar de consciência negra uma cor, a qual deveria sim ser chamada de consciência dos não-incluídos, ou até dos não-educados. Zumbi fôra um herói sem nem mesmo entender o porquê, tendo um só querer, o da liberdade. E hoje quando somos livres, a maioria se entrega, e sobrepuja o verdadeiro motivo da escravidão, o não-saber!
Seria então este dia um exemplo de racismo? Por que a maioria dos idealizadores eram brancas? Alguém seria capaz de responder sobre a cultura africana com tais demonstrações?
Apenas as esculturas e desenhos podem se levar em conta.
Vendo isso, podeis leitor constatar nada, ou quase nada de fatos. Estes foram transpostos num conto, tendo personagens imaginários, sucessos reais.
Um Conto e nada
Mais...
Do Senhor
Cheguei-me a olhar a festa dessas feras bestiais. Não entendo a qual motivo fôra feita ela, nem o pretendo descobrir, contudo o fazer destes havia de ser indescritível, ao menos inusitado.
Andei um pouco a frente a porta, tendo meus olhos já pondo à vista no primeiro ato desta orquestra de horrores. Corriam eles desenfreadamente não importando a quem encontrasse. Esbarravam e gritavam como se tivesse às portas o primeiro prato de refeição. Já aí fui eu acometido a empurrões e bordoadas, onde nada se importava o respeito, só o chegar.
Sentaram-se todos, ou quase, e pus-me em pé à assistir tal sucesso.
Duas jovens e uma senhora, caracterizadas a moda da senzala, iniciaram o dançar. Os batuques começaram e os animais também. Ah, havia esquecido. Antes do todo, aqueles animais enchiam o lugar de urros incessantes de bestas incrédulas, começaria ali uma verdadeira orgia. Alguns se beijavam em beiços candentes, outros se agarravam e o furor tinha tomado e tornado sentença. O circo levantara as lonas e as jaulas arraigavam-se diante destes leões.
Aquela pequena reunião tornara-se uma festa ébria tombada pelo torpor.
Dado o bailar daquelas mancebas e da senhora, os urros continuaram e aumentaram num ensurdecedor devolver de hinos. Elas dançavam, eles tocavam.
Algumas sinhazinhas, assim como eu, sentiam o gosto do hosco e a grotesca maneira daqueles escravos ali sentados. Uma em especial atraiu minhas vistas de enquanto em pé, e sentada assistia contemplativa aquela súcia.
Não sei dizer, talvez os atabaques descontrolem as feras fazendo-as repelir todo o gesto de humano, esvaziando-as completamente ao estado imundo, ou se de nada há de humano em seus corpos e o sucesso era próprio ao opróbrio.
-Patrão, eles acabaram.
-Vamos, não há nada de útil aqui!
O feitor meu braço direito, também nem tão inteligente quanto eles, guiou-me até a saída. Absorto ele estava, todavia as ordens soam mais aos ouvidos do que as intempéries do corpo.
Quando na porta estava eu, uma sinhazinha agradeceu aquelas ovações junto a uma preta. Chamou-a de mãe. Qual seria o motivo a levar uma branca chamar uma ama-de-leite de mãe?
Meus pés se deslocavam para fora sendo ainda indispensável relatar o final. As ovações viraram verdadeiros berros e brados no apresentar de uma das mancebas dançarinas. Vaiaram uma irmã como um branco.
Deixei-os lá naquela anátema e saímo-nos a deixar o circo de bestas-fera continuar.
Do Feitor
O patrão tinha me arrastado para lá sem nem mesmo eu saber o porquê. Apenas me deu ordens de soltar a chibata em todo aquele que me desse na telha.
Agente parou bem na frente e a visão era boa. Alguns negros já se beijavam e trançavam as pernas, sem contar os berros. Berravam como corvos no deixar de qualquer um surdo. Algumas sinhazinhas estavam sentadas com eles a conversar. Claro que eram feitas de bobas e muitas acabavam apanhando.
Bati em alguns e o romper da chibata fazia-os calar; o que arrancava um sorriso do patrão. Teve um pretinho que brigou com outro negro.
-Que coragem né patrão?
-Que asneira...
Fiz-me de quieto com essa e assiste elas dançarem. Eram umas negras lindas, se requebrando de um jeito que só um balde de água fria resolve. No fim uns batiam palmas e outros vaiavam. Vaiaram uma negrinha que dançou lá. Vaiaram sua própria irmã. Por isso o patrão os chama de animais.
-Ela não dançou bem, me disse uma negra...
Dos Escravos
Apenas o olhar não basta, é preciso se haver o toque, é necessário a existência do sibilo no ato de esfregar os corpos, torná-los unidos nesse frenesi, e finalmente havendo um beijo onde os lábios se tocam e as línguas brincam.
Muitos de nós se houveram com isso em plena execução de nosso exalto. Isso mesmo, onde há de existir respeito se esta é a nossa hora, a nossa festa.
Os olhos sim, estes hão de reverberar no desejo de soltar da sua concha, para se haver o mais ardoroso intento de todos, o torpor.
Vê aquela mulher dançando? Muito melhor seria eu ali, mal a pobre consegue mexer os braços e o ventre no encantar dos homens, se lá eu estivesse não seria deste modo. Seria um sonho intenso, cada segundo beberia molhando os beiços, descendo tais como sacrilégios por entre os seios. Inveja? Não! Seria sim um alvitre, não apenas meu, e sim um contágio a todos!
O quê? Saias e levante do meu lugar! Só por ser maior e mais forte pensas que o temo? Não te enganes, eu sou capaz de muita coisa!
-Saia daí, levanta que eu quero ver!
Ria, continue rindo, meu tempo chega e a brisa do tempo tomba a janela com força proporcionalmente ao vento.
-Ei você, vai apanhar!
Será que eles entendem o que faço? O porque de eu com minha idade estar dançando tanto tendo cinco filhos? Pouco me importa, minha parte faço e meu destino me acaricia, gritem, louvem-me, se minhas pernas tremem e o meu corpo dança. Mãe? Tua? Talvez...
Cansei, trabalhei, soei, para ser hoje vaiada como se nada de valor houvesse feito. O tambor da musica reverberou meus ouvidos e dancei o que pude, não para ser vaiada. Sinto-me triste, a dor me consola, e o peito vibrante da minha cor parece aturdido...
No virar dos olhos onde a vista cega, pouco vejo e nada me importa, grito e brado, até vaio, se danças ao meu deleite é que sóis pobre! Nisso sorriu meus dentes cor de leite, e nada há mais de branco do que meus contentes.