Fantasma

Eu não vejo gente morta. Cruzes! Nem queria ver. Muito mal gosto das pessoas vivas, quem dirá daquelas que já estão mortas. Fora o medo que tenho. Todas às vezes que estou sozinho, principalmente de noite, eu sinto que estou sendo observado. Aquela estranha sensação de ter alguém dentro do quarto contigo, sabe? Pois é. Isso me faz pensar, por que será que os fantasmas preferem a noite? Talvez eles sejam assim como eu: seres cheio de insônia. Eu fico vagando durante a madrugada. Eu e os fantasmas.

Pior são aquelas pessoas que querem vê-los, pessoas do tipo muito comunicativas, são tão comunicativas que além vê-los, elas também querem falar com eles. Ora, isso não tem cabimento. Pelo menos não para mim. Não que eu acredite em fantasmas, também não duvido que eles existam, eu nunca os vi. Nada contra essas pessoas, mas eu apenas não acho que um fantasma tenha nada de importante para me dizer e nem eu para ele. Nós vivemos em mundos diferentes, então, eu imagino que os assuntos também sejam diferentes.

Mas eu respeito as pessoas que se importam com isso. É como dizem, cada um com a sua crença e também com suas loucuras. No fundo, o que penso sobre isso é bem simples, pois acho que na verdade essas pessoas buscam uma explicação ou uma justificativa para a vida e para a morte. Talvez a sensação de finidade seja desesperadora para algumas pessoas. E por isso, elas buscam algo que as façam crer que, depois da morte, elas continuarão a viver em algum lugar. Algo que as façam crer na continuidade do espírito. “Seja no claro céu ou no turvo inferno”, como diria Drummond.

Há muito tempo atrás, eu ouvi alguém falando que o homem teme a tudo que não conhece. Por esse raciocínio, eu creio que o homem teme a morte por não conhecê-la. Às pessoas não querem ficar sozinhas! Nem aqui na vida, nem do outro lado. Às pessoas não aceitam a realidade, elas preferem mentir para si mesmas com o objetivo de manter sua estrutura emocional. Não são capazes de aceitar a vida como ela é, e, por isso, precisam se enganar das mais variadas formas.

A minha mãe, por exemplo, ela era católica. Mas já faz muito tempo que nós dois não nos falamos. Acho que nossos assuntos já não são mais os mesmos. Ela vive no mundo dela e eu no meu. De uns anos pra cá, ela se tornou espirita, agora fica frequentando as sessões do centro espírita, e tem habito de falar sozinha, murmurando melancolias pela casa. É por essas e outras que digo que isso tudo não passa de loucura!

Ela costuma ter sonhos ruins, e às vezes acorda assustada durante a noite. Coitada! Ficou tão impressionada com essa besteira de fantasmas, que cisma em chamar pelo seu filho, que ela diz ter morrido em um acidente de carro. Mas como isso seria possível? Já que eu sou filho único.

Kleber Braga.

Kleber Braga Pereira
Enviado por Kleber Braga Pereira em 17/03/2015
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