A BEIRA DO RIO

Uma mulher lacrimosa sentava-se num banco a beira do rio. Os transeuntes não se importavam com seu pesar. Todos estavam cansados demais dos problemas alheios, ninguém queria escutar as alegrias quem dirá as tristezas.

A senhora usava um vestido, longo, branco de seda, que acentuava suas curvas delgadas. Seus cabelos castanhos flutuavam ao sabor do vento do final de tarde. A cena toda era de partir o coração; seu fiar de lágrimas interminável machucava aqueles que a ouvia.

Outra senhora que por ali passava finalmente comoveu-se com a pobre mulher e, aproximou-se.

— Por que choras? — indagou altivamente.

Aquela que chorava encarou sua inquisidora. A outra senhora possuía um ar altivo, vestia-se com elegância digna de majestade, suas vestes eram negras, com bordados dourados e detalhes vermelhos, sua expressão era dura e, mesmo assim cheia de uma beleza fria e sombria. Seus lábios fartos derramavam-se em um batom vermelho vivo.

— Sente-se, por favor — solicitou apontando o banco.

As mulheres acomodaram-se sutilmente deixando um leve espaço entre elas.

— Olá, meu nome é Guerra — disse prontamente a senhora vestida de negro.

— Prazer, sou Paz — anunciou estendendo a mão em cumprimento formal.

Guerra apertou a mão de Paz, em seguida perguntou:

— Qual o motivo de tamanha tristeza?

— Isso é realmente lastimável — Paz olhou no fundo dos olhos de Guerra —, estou perdendo meu emprego, nada do que faço parece surtir efeito. Sou jogada pelos cantos; descartável como lixo; aqueles de quem cuido estão mais interessados em discussões e batalhas sem sentido. Minha função definha a cada dia, e já não sei mais o que fazer para curar o irremediável. Como se tudo isso não bastasse, perdi minhas irmãs, Sabedoria e Humildade, companheiras inseparáveis de jornada. Não demora muito e vou morrer também.

— Não seja tão pessimista mulher, as coisas hão de melhorar — falou Guerra rispidamente com seu tom autoritário.

— O que você faz da vida? Se é que posso saber — questionou Paz.

Pela primeira vez um sorriso brilhou no rosto de Guerra.

— Basicamente incito o caos entre os homens. E serei bastante sincera: sou extremamente competente nisso; gero toda horda de embates infrutíferos e mortais na raça humana, banhos de sangue são feitos a cada novo dia em meu favor. Até mesmo fui condecorada por tamanha eficiência — disse orgulhosa.

— Pelo visto somos opostas. Enquanto Guerra permanece no ápice, Paz definha inutilmente. Por que será que os humanos são tão tolos e bélicos? Responda-me já que é tão formidável.

Guerra ajeitou seu vestido com graça. Paz limpou de seus olhos claros, profundos e cheios de olheiras mais uma lágrima insubmissa, lembrando-se que nunca foi unânime durante toda a existência da humanidade, mas que um dia teve maior importância e, esperou a resposta de sua nova amiga brilhante e competente.

— Uma bela pergunta sem duvida e de fácil resposta — retorquiu guerra esboçando um sorriso e se sentindo confiante — A cobiça e o poder envenenou a humanidade. O homem, não confia mais no homem Confunde e transforma amores em ódios... Idealizam que o dinheiro

Pode comprar tudo, mas esquecem que nunca pode comprar um sol de uma manha. Simplesmente a vida humana se tornou competitiva demais... Pensam demais e sentem de menos. Por isso veja bem não tenho assim muito trabalho como pode calcular — concluiu Guerra no seu tom de altivez.

Paz por uns instantes ficou refletiva sem saber o que falar, sem saber como fazer. Ela sabia que precisaria de força para reverter sua situação. Mas como? Sem suas irmãs seria impossível, seria uma luta desigual.

Na sua mente apenas tinha uma pergunta ‘que posso fazer? Não posso me deixar morrer!’

O silêncio entre ambas permaneceu por mais uns instantes.

Paz num ar mais confiante e decidido indaga Guerra.

— Você parece alguém com bastante sabedoria, se lhe pedisse ajuda me ajudaria?

Guerra soltando uma gargalhada quase irônica responde.

— Minha cara amiga até que poderia ajudar sim, mas como pode calcular se eu a ajudasse seria uma morte anunciada para mim, entende? Nós não somos tão diferentes assim apenas estamos em lugares opostos.

Ouvindo Guerra, Paz se sente ainda mais perdida que nunca.

Guerra vendo paz em desespero segura firme sua mão tremula e fria que parecia sem vida e num tom de voz mais calmo comenta.

— Minha amiga não desespere nem tudo está perdido para si, veja, olhe o rio, apesar de tantos obstáculos que encontra pelo caminho ele segue seu percurso, não concorda?