702-LEITURA: MEU TESOURO DA MENINICE- Auto-Biografico

Hoje sei que sou um adicto em leitura. Mais do que adicto, sou viciado em ler. Procuro ler tudo o que me cai nas mãos ou passa ante meus olhos. E sempre foi assim, desde que me entendo como alfabetizado.

A família de poucos recursos não tinha dinheiro para comprar livros. Na casa de meus pais praticamente não havia livros. Papai guardava coleções das revistas “O Atalaia” e “Vida e Saúde”, ambas do ano de 1939. Publicações da Casa Publicadora Brasileira, da linha adventista do sétimo dia. Mesmo sem entender muito os conceitos doutrinários de “O Atalaia”, li todos os exemplares e alguns artigos por mais de uma vez.

Curiosidade: eram os números iniciais (de 1 a 12) de ambas as revistas, lançadas em 1939 e para os padrões da época, muito bem feitas, atrativas, capas em papelç brilhante (couché) com ilustrações impressionantes. Até hoje não entendi porquê papai, católico que fora até seminarista, guardava aquelas revistas e me deixava ler. Evidência de seu espírito tolerante e compreensivo?

Tio Armando, solteiro e que morava conosco, tinha servido o exército (período de serviço militar obrigatório) no Regimento de Cavalaria de Três Corações, por isso tinha mais instrução do que a média, também gostava de ler. Tinha uma coleção do primeiro ano de Seleções do Reader’s Digest no Brasil (números 1 a 12, de fevereiro de 1942 a janeiro de 1943), que li e reli. Alguns (poucos) livros que mantinha trancados em seu guarda-roupa, que eu arrombava para ler: O Critério, de James Balmes e Nossa Vida Sexual, de Fritz Kahn. Um conjunto de três volumes grossos, que foi a única informação sexual que tive até Carlos Zéfiro.

Devido à carência de livros em casa, vivia lendo livros emprestados: da biblioteca do Grupo Escolar Campos do Amaral (apenas um por semana); do Benito Juarez Joele, vizinho da frente, que além de volumosa coleção (mais de 100 exemplares) do Globo Juvenil revista tri semanal em quadrinhos, possuía uma série de livrinhos de histórias infantis clássicas.

Estava no quarto ano do Grupo Escolar quando ganhei do Totó, ajudante no açougue próximo à nossa casa, um livro muito estranho: Raiar de Um Novo Dia, também da editora adventista Casa Publicadora Brasileira. Um grosso volume encadernado, com capítulos que tratavam de religião, da guerra, do futuro, uma parafernália de assuntos. Li com avidez e desnecessário dizer que gostei demais.

Quando fui admitido no Ginásio Paraisense, passei a ler a Coleção Terramarear, da Companhia Editora Nacional, de Monteiro Lobato. Era constituída de mais de 100 títulos e nela estavam as aventuras de Tarzan — inolvidáveis!

Vitor Denúbila era o colega mais alto da classe no Ginásio Paraisense, Seu apelido era Espanador da Lua. E tinha um tesouro, literalmente falando; a coleção TESOURO DA JUVENTUDE, dezoito volumes encadernados, edição de W.M.Jackson Editora. Mas tinha um ciúme danado da coleção e não permitia que eu levasse emprestado nenhum volume para ler em minha casa. O jeito era ler na sua casa, com pouco rendimento. Lia alguns artigos das diversas partes em que se dividia: O Livro dos Porquês, O Livro da Terra, O Livro da História, O Livro das Curiosidades, etc. Folheava intensamente e nos anos ginasiais, meu sonho era ter aquela coleção.

Depois do ginásio, arranjei emprego, comecei a ganhar meu dinheiro, e principiei adquirir livros e gibis. E nunca mais parei.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 8 de dezembro de 2011

Conto-crônica # 702 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 12/03/2015
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