696-A CHURRASQUEIRA PERDIDA - História Real

Maurício dirigia a caminho do serviço, por um trecho de estrada de pouco movimento. Uma estrada vicinal, ligando a região de sua residência a Saint Louis, onde trabalhava. Usava raramente, visto que era cheia de curvas, perigosa no inverno. Naquela manhã, todavia, de pleno verão, era de se admirar o pouco movimento de carros. No momento apenas uma camioneta cinza, além do carro de Mauricío, transitava à sua frente indo na mesma direção.

Na camioneta cinza, Johnny dirigia satisfeito, assobiando, de olho nas curvas da estrada.

Que ótimo ter conseguido a churrasqueira emprestada. O Kevin é mesmo camarada. Me deu até um saco de carvão. Vou chegar em casa e preparar tudo para ficar pronto assim que o pai e a mãe de Norita chegarem.

Queria impressionar os futuros sogros, no dia que marcaria o seu noivado. Convidara alguns amigos e colegas. Fazia a festa para eles, mas, na realidade, era uma festa mais para agradar sua vaidade e mostrar a todos quem era ele, Johnny Guitar. Pois que Hernando, irmão de Norita, vivia aborrecendo-o, dizendo que ele só sabia tocar violão desafinando e não tinha competência para mais nada.

Ele vai ver que churrasco vou fazer.

Kevin era muito cuidadoso com a churrasqueira e recomendara a Johnny:

— Empresto, sim, a churrasqueira, mas olha lá, hein? Só por este fim de semana. E quando devolver, quero limpinha e brilhante, tal como está agora.

Mauricio aproximou-se da camioneta e sinalizou a ultrapassagem, pois o veiculo à sua frente ia devagar, carregada que estava com a churrasqueira. Observando a carga pesada na carroceria aberta, estranhou.

Que coisa mais esquisita! Parece mudança de gente pobre...

Firmando a vista, distinguiu a carga.

Uma churrasqueira. Ah. De certo vai para alguma comemoração. Mas como está mal colocada. Amarrada com corda e com uma parte para fora da carroceria.

Nem bem havia percebido os detalhes da carga mal feita, eis que a churrasqueira despenca, caindo sobre o leito da estrada de cimento.

Mauricio, que estava ainda a mais de vinte metros, teve tempo de dar um golpe na direção para a esquerda, ao mesmo tempo em que freava moderadamente.

Ao cair, ela se arrastou sobre a faixa de cimento, as partes de metal arrancando faíscas pelo atrito.

O motorista da camioneta não notou a queda e prosseguiu, desaparecendo na próxima curva da estrada.

Mauricio, assustado, tirou o pé do acelerado e pisou de leve no freio, pois estava a uma velocidade que não lhe permitia uma freada brusca. Felizmente, nenhum outro veículo vinha na direção contrária, de forma que a manobra não representou perigo.

Tudo aconteceu rapidamente, numa curva para a esquerda, de forma que a churrasqueira, com as cambalhotas foi para o acostamento sem a proteção de muretas ou guardrail. Continuou rolando sobre si mesma e despencou por um barranco, só parando quando se chocou com uma árvore, sob cuja densa folhagem ficou encoberta.

Mauricio parou o carro alguns metros além do local onde a queda ocorrera. Saiu do carro e ficou observando o cenário, por alguns minutos.

No afã de se safar do choque com a churrasqueira, não houve tempo para ver a placa da camioneta.

Nada posso fazer. Não vi a placa e não vou sair correndo feito louco para alcançar a camioneta. O motorista só vai perceber que perdeu a churrasqueira quando chegar ao seu destino.

Observou melhor o local onde a churrasqueira quase desaparecera.

Além de tudo, está bem escondida debaixo desta árvore, encoberta pela folhagem. Vai ser difícil de achar.

Entrou no carro e dirigiu-se para seu destino.

Foi assim, com o propósito de fazer um churrasco para impressionar a família de Norita, bem como seus amigos, que Johnny chegou com a camioneta, parando com uma freada brusca.

Viu alguns convidados para o churrasco no backyard, conversando e tomando cerveja.

Abriu a porta do veículo, desceu e dirigiu-se correndo para dentro da casa, gritando:

— Bill, venha me ajudar a descarregar a churrasqueira.

O irmão veio correndo, acompanhando Johnny. Chegaram juntos até a camioneta. Entusiasmado e antes mesmo de olhar para a carroceria da camioneta, Johnny disse:

— Então, Bill, não é uma beleza de churrasqueira?

O irmão olhou para a carroceria, e sem compreender nada, perguntou:

— Churrasqueira? Mas que churrasqueira, Johnny?

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 29 de novembro de 2011

Conto # 695 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 10/03/2015
Reeditado em 10/03/2015
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