O CAPA BODE.

       Não acrescento nada,o que aqui se lê são coisas guardadas nas minhas retinas.O arraial do Capa Bode é um lugar pitoresco,destes que o amor chega forte , o arraial foi desenhado pelo tempo,fica montado no colo de uma serra,
um riacho lambe seu ventre vindo lá das bandas do vai vém ,um capão coroa o lado direito,e uma erosão rasga um fenda vermelha a esquerda.As casas são disposta de forma desordenadas,escondidas entre árvores da mata nativa,um cruzeiro exposto ao pé da serra é o templo de fé,a escola é passada de geração para geração numa sucessão folclórica impecável.Dizem que a familia dos penas,começou tatuar este santuário de cultura na época da ditadura. O pena velho homem casmurro,destes que masca lascas de fumo e cospe de banda,apareceu la com uns mil réis e adquiriu esta propriedade do Bezerra  filho,que estava atolado até o pescoço em divida com o fisco,lá se instalou,fez o primeiro barraco de adobe,vivia na solidão profunda,vivia da cultura de subsistência,está registrado nas memórias populares que nas noite de quaresmas,o Saci Pererê,atormentava muito o pobre pena fato que o levou,
abandonar temporariamente o naco de terra e voltar para a zona da mata mineira,lá casou-se com a negra Baldoina Cota,mulher esmirrada,face murcha,olhar opaco,meio desengonçada,mulher de pouco verbo, e que só respondia no monossilabos.O retorno se deu na época da semeadura do milho.Dizem coisa que não confirmo,que chegara num tarde de tempestade,o pena velho que passo a chamar pela alcunha de Chico peste,deram-se na tal tarde no lombo de uma mulinha parda,Baldoina já embuchada de meses,
vinha de lancha de pés no chão,amassando o barro,tateando um lugar seguro para livrar-se dos escorregões,A mulinha vinha num batido lento tangendo as moscas,dilatanto as ventas de tanto peso,tudo num silêncio imenso,as águas batia forte, e os riachinhos choaravam de rir,riachos adoram cheias.Baldoina levava no ventre a primeira cria,face apagado pelo cansaço,a barriga avoluma-se no vestido de chita molhado,o olhar fixo na lonjura da estrada,foram remando,até rebentar no Capa-Bode,a tarde já começava a encorpar quando de fato chegou ao casébre, que alivio muié,
amarrou a mula,deu um cuspida na grama,deu de descer os balaios de canudo, e ir se arranjando,abriu a porta e as janelas,para modo o cheiro do mofo ir passear,Balduina cuidou de botar fogo no fogão,sopra daqui,sopra dali,virgem santa ,lenha molhada só chora,fogo que é bom nada,abriu os balaios,soltou a galinhada, dois cahorros magros,olhos opacos,fundos vazios a arquejarem,mexe daqui,mexe dali e aos poucos o espaço tomou jeito de habitação,a noite caiu,e pela madrugada o assovio cortou fundo,rasgando a beira do rio,Balduina pega o breviário,que o bicho tá solto,Baldoina respondeu ,hum rum,e adormeceu,aos poucos o medo foi amainado,
pela manhã ele foi caçar rastos do coisa ruim,mas nada viu,Baldoina sorriu,este trem anda é no ar,outra risada .Chico atirou-se no mato,fazendo roçado,amontuando coivaras,metendo milho na terra,a terra fértil.fofa,recebendo grãos de feijão,sementes de abobora,e em pouco meses,estava aquela belezura,viço para todo lado,nas tardes Baldoina alisava a barriga esticada,feliz com a prosperidade promissora,assim 
o tempo foi encorpando e lá numa ,tarde nasceu Eurico,e depois um a cada ano até completar dez.Meninos cortava as terras pra todos lados.Meieiros vieram aproveitar a terra ,e assim o arraial foi se estabelecendo,casebres foram feitos nos grotões,tudo tão desalinhado e fascinante.Eurico cresceu.robusto,aventureiro,meteu-se com o submundo da politica,casou-se com um branquela da cidade,mulher metida a boa de sela,ficava colocando esses nas palavras,desajeitava Eurico até perto dos pais,fato que lhe custou uma carraspana do chico peste,aqui não caninana,o que prevalesce aqui é nossa lei,diacho sô,diachô,e saiu pro mato foi conversar com passarinhos,e acalmar a raiva.quando voltou a jabiraca já tinha feito ratros na estrada e ali nunca mais botou os pés.Consta-se na mémoria de um ancião que tempos depois numa festividade de são Sebatião,que por lá apareceu um capiau politico acompanhado de Eurico,e vendo a gordura da massa,caiu na bobagem de propor gratitamente por uma maquina a abrir ruas ,para facilitar a chegada do progresso,fato que foi repelido por Chico peste,e recebido com uma afronta as leis do sossego.O saci pererê,continua lá ate hoje,com seus assobios de doer ouvidos,sempre passa com seu cigarro aceso, ora assobia ,ora fuma,sempre na mesma toada.os riachos e os peixes vive plenitude,os pássaros lavam os ares com suas liberdades,o Capa- Bode pouco mudado,lá modernidade passa longe,as pessoas tem seus costumes,a vida é mais longa e mais abastada,o Capa-Bode é uma lenda que vai sendo  cada dia repassada,e assim cada vez fica mais robusta,lá ainda é permitido viver em paz.
Divino Ângelo Rola
Enviado por Divino Ângelo Rola em 07/03/2015
Reeditado em 13/03/2015
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